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Catálogo de obras de Sigismund Neukomm

19/06/2017 - Rosana Lanzelotte

O presente trabalho descreve a elaboração do catálogo de obras do compositor austríaco Sigismund Neukomm com vistas à disponibilidade através do portal Musica Brasilis. Partiu-se dos arquivos e apontamentos cedidos por José Maria Neves (1943 - 2002) antes de seu prematuro falecimento. Esse material foi cotejado com a cópia manuscrita do catálogo e com as fichas das partituras pertencentes ao acervo da Biblioteca Nacional da França. A versão em linha do catálogo facilita o acesso aos arquivos onde estão as partituras do compositor, meta primordial do incansável musicólogo.

  1. Introdução

            Sigismund Neukomm (1778-1858), o aluno predileto de Joseph Haydn (1732-1809), desfrutou de enorme sucesso em sua época, o que é comprovado pela quantidade de edições de suas obras ainda durante sua vida. Quando da estadia no Brasil, de 1816 a 1821, Neukomm compôs cerca de 70 obras, entre as quais 14 peças para piano, 11 para conjunto de câmara e 18 para bandas, além da primeira sinfonia escrita no país. O capricho de sua autoria “O Amor Brazileiro”, inspirado em um lundu, inaugura em 1819 a mistura dos gêneros popular e clássico, bem como a fantasia “L’Amoureux”, baseada na modinha “A Melancolia”, de Joaquim Manoel da Câmara (1780-1840). Desse compositor e violeiro, Neukomm transcreveu e harmonizou vinte modinhas que publicou quando de seu retorno à França.

            Conforme indicado na autobiografia (NEUKOMM, 1859), o próprio compositor elaborou, a partir de 1804, o catálogo temático no qual relacionou em ordem cronológica a maior parcela de suas cerca de 1850 obras. A cópia manuscrita em dois volumes, de provável autoria de Anton Neukomm (1783 – 1873), irmão do compositor (ANGERMÜLLER, 1977, p. 8), encontra-se na Biblioteca Nacional da França (BNF) sob a cota Ms.8328.

            O musicólogo José Maria Neves estava debruçado sobre o trabalho de elaboração do catálogo completo do compositor, em que se propunha a levantar, a partir de pesquisas na Biblioteca Nacional da França (BNF) e em outros arquivos, cerca de 300 obras não incluídas no catálogo manuscrito. O resultado do trabalho, inconcluso devido ao prematuro falecimento, nos foi legado pessoalmente por ele quando já estava doente.

            A partir do material por ele transmitido, procedeu-se ao cotejamento com a cópia manuscrita do catálogo (ANGERMÜLLER, 1977, p. 57-243). A coleção de fichas do catálogo da BNF, que guarda a maior parte dos manuscritos de Neukomm, possibilitou a identificação de cotas de uma parcela das obras instrumentais (SANTOS, 2009). A lista de obras que está publicada no portal Musica Brasilis é um resultado parcial, ao qual serão em breve acrescentadas as entradas relativas às obras não listadas por Neukomm.

            A seguir, descreve-se resumidamente os trabalhos anteriores e as questões levantadas durante a elaboração do trabalho legado por José Maria Neves anteriores à publicação.

 

  1. O Catálogo Manuscrito

            O manuscrito Ms.8328 pertencente ao arquivo da BNF – em dois volumes – apresenta na capa o monograma SN envolto em uma oval, seguido da inscrição:

 

Catálogo do meu trabalho

em ordem cronológica

A partir do mês de janeiro 1804

no ano 26 da minha idade

a partir de um catálogo anterior

Londres em 1 de janeiro de 1832[1]

            Essa inscrição caracteriza o documento como sendo uma cópia de um exemplar anterior, cujo paradeiro não foi identificado. Existem ainda outros indícios de que se trata de uma cópia, como o Nota Bene ao pé da página 106: “NB a partir daqui a paginação difere do original, o que será indicado por números em vermelho”[2]. As entradas que se seguem, de nº 497 até a entrada de nº 812, são marcadas com um número inscrito em cor vermelha, indicativo da página correspondente no catálogo original.

            Em seu testamento, Sigismund Neukomm deixa ao irmão Anton a incumbência de fazer imprimir o catálogo:

Deixo a cargo de meu irmão imprimir cuidadosamente em tipos móveis e no total de 300 exemplares o catálogo de minhas obras que comecei em Viena no mês de janeiro de 1804. Este catálogo poderá ser impresso pela Breitkopf e Härtel em Leipzig e meu irmão consultará sobre este assunto meu amigo Moscheles a quem solicitará a supervisão da correção das provas. Os exemplares do catálogo serão distribuídos como uma lembrança de minha parte a todos os meus amigos na Alemanha, França, Inglaterra, Escócia e Irlanda, e para as sociedades em todos os países que me honraram colocando meu nome em suas listas de membros. Meu irmão também endereçará – gratuitamente – os exemplares do catálogo às bibliotecas públicas de todos os países e lugares onde estive.[3]

 

            O próprio compositor empreendeu um dos primeiros catálogos temáticos da história da música e se preocupou em que fosse distribuído em diversos países. Provável autor da cópia, o irmão Anton Neukomm era o encarregado de enviar o catálogo à editora que, apesar de ter realizado o orçamento, não o publicou (ANGERMÜLLER, 1977, p. 8).

            As entradas do catálogo manuscrito contém, entre outras, as seguintes informações:

  • número da obra no catálogo: de 1 a 1265; às vezes, mais de uma obra é incluída sob o mesmo número; outras vezes, são acrescentados sufixos ao nº (Ex: 142 bis);
  • local e data de composição;
  • volume – Vol. – seguida de número; indicativo de encadernações das partituras; as indicações de volume cessam a partir do nº 823 do catálogo;
  • Título sublinhado, seguido, às vezes por uma frase à guisa de subtítulo, indicativo da ocasião para a qual a obra foi composta, etc.;
  • instrumentação (opcional);
  • dedicatória (opcional);
  • indicação de autor do texto (opcional);
  • indicação de que a obra foi editada – “gravé” – algumas vezes seguida por local de edição e / ou nome do editor;

            O catálogo tem omissões, como indica o comentário após a entrada de nº 1100: “Grande Marche Militaire et d’autres morceaux oubliés d’inscrire” (ANGERMÜLLER, 1977, p. 205).

            As frequentes transcrições para pianoforte às vezes estão indicadas na própria entrada da obra. Por exemplo a de nº 211 apresenta a indicação: “La même marche arrangée pour le Pianoforte”. Outras transcrições são objeto de entradas próprias, como a de nº 143, referente à transcrição para pianoforte a 2 e 4 mãos da Marcha Triunfal do nº 142 bis.

            É frequente a inserção de informações biográficas, como a que consta após o nº 142: « Mort de ma sœur Elise. + Transeat calix iste ! »

            Ocorrem ainda parágrafos que mesclam informações biográficas e menções a obras, como a que antecede a de nº 142 bis:

 

Partida para o Rio de Janeiro em 2 de abril de 1816 a bordo da fragata Hermione (porto de Brest). Chegada à Lisboa em 7 de abril. Durante minha curta estadia em Lisboa, em Funchal (Ilha da Madeira) e em Santa Cruz (Tenerife), e durante a travessia, eu compus várias peças a 3 e a 4 partes (música sacra sobre texto latino) e algumas peças para banda militar a bordo da fragata.[4]

 

  1. Pesquisas anteriores sobre o catálogo de obras de Sigismund Neukomm

            O catálogo manuscrito de obras de Sigismund Neukomm foi reproduzido em fac simile pelo musicólogo Rudolph Angermüller (1977). O autor não se propôs a incluir as obras omitidas no sentido de elaborar um catálogo exaustivo.

            O fac simile é seguido de um índice construído com o objetivo de facilitar a localização de obras no catálogo, que as classifica segundo as categorias:

  1. Música Sacra
  2. Música Secular
    1. Música Vocal
      1. Obras dramáticas
      2. Cantatas
      3. Música para coro
      4. Canons (salvo classificação em outra categoria[5])

...

    1. Música Instrumental
      1. Sinfonias
      2. Concertos e peças de concerto com orquestra
      3. Aberturas
      4. Fantasias para orquestra
      5. Peças individuais para orquestra

...

16. Peças para piano

...

18. Peças para órgão expressivo

C.    Solfejos, estudos, métodos

D.    Transcrições (quando não para piano ou órgão expressivo)

            Como se pode observar, esta classificação mescla indevidamente gêneros, formas e instrumentação. O autor optou por classes disjuntas, de maneira que uma obra pertence a uma única categoria. Assim, o cânon de nº 939, classificado na categoria A (Música Sacra) em função do texto litúrgico, não consta da relação de cânons (B.I.4).  A separação de obras musicais em categorias disjuntas é uma prática frequente, que poderia e deveria ter sido evitada (LANZELOTTE, 2006).

            Angermüller (1977) despreza os títulos originais de diversas obras – talvez porque Neukomm denomine muitas peças com o mesmo título – substituindo-os pelo incipit do texto. Porém, essa sistemática não se mostra eficaz, uma vez que Neukomm escreveu diversas obras sobre os mesmos textos.

            O catálogo de obras de Neukomm foi objeto da tese de doutorado de Luciane Beduschi (2008). A autora realiza um minucioso trabalho de transcrição do catálogo manuscrito e elucida diversos aspectos. O detalhamento exaustivo das entradas do catálogo manuscrito inclui informações não relacionadas às obras em si:

  • Localização física da entrada no catálogo manuscrito, expressa pelo nº do volume (1 ou 2) e nº de página (Ex: Vol. 1, p. 1)
  • Nº de Volume, indicativo das encadernações de manuscritos;
  • Números inscritos em vermelho indicativos de nº de página da entrada no catálogo original;
  •  Sinais “+” e “*”, indicativos de revisão.

            A autora optou por substituir o incipit musical existente nas entradas do catálogo manuscrito pelas indicações de armadura, compasso, tempo e incipit de texto.

            Beduschi (2008) decidiu informar também a classificação de Angermüller, estranha ao catálogo manuscrito.

            A localização física da entrada no catálogo manuscrito que encabeça cada ficha – “Vol. I, p. 2” – não é relevante do ponto de vista de caracterização da obra. No campo Tempo, a autora mescla o nome do movimento (“Ouverture”) com a indicação de tempo propriamente dita (“Largo”). No campo Autres, a autora menciona a referência à entrada de nº 13 – “Voir le Nº 13” – encontrada no catálogo manuscrito. A mesma informação é desnecessariamente repetida no campo Commentaires (“Voir Cm 13”).

            Uma das principais contribuições da tese de Beduschi (2008) é a identificação das cotas das partituras existentes na BNF, o que facilita sobremaneira a encomenda de cópias através do sítio da instituição.

  1. O legado de José Maria Neves

            José Maria Neves esteve envolvido com a obra de Sigismund Neukomm desde o final da década de 1990. Um primeiro resultado foi a edição crítica da Missa pro die Acclamationis Joannis VI, composta por Neukomm em 1817 para a cerimônia de aclamação de D. João VI, ocorrida em 6 de fevereiro de 1818. A edição foi inicialmente encomendada pela FUNARTE em 1996 e agora está disponível em linha (/partituras/sigismund-neukomm-missa-solemnis-pro-die-acclamationis-s-m-johannis-vi-4a).

            As pesquisas do musicólogo possibilitaram estimar pela primeira vez o legado do compositor, que se revela muito mais extenso do que as 281 entradas repertoriadas pelo RISM (2017):

  1. Numeração utilizada no catálogo manuscrito:  1 a 1265, às vezes com subdivisões;
  2. Itens do catálogo que não contém títulos de obras e referem-se apenas a informações biográficas e outras: 3;
  3. Itens que se referem a suas obras musicais: 16;
  4. Itens desdobrados em diversas obras (conjunto de lieder e similares): 234;
  5. Total de obras registradas no catálogo manuscrito: 1512;
  6. Total de obras não registradas no catálogo manuscrito: 312;
  7. Total de obras de Sigismund Neukomm: 1824 (NEVES, 2000, p. 14).

            O material recebido de José Maria Neves consistiu de uma base de dados e um prefácio preliminar datado de 11/2/2001. A base de dados contém 1853 entradas, sendo as primeiras 1508 correspondentes à transcrição do catálogo manuscrito. As demais se referem a obras não incluídas no catálogo manuscrito, levantadas nos arquivos em que o musicólogo realizou pesquisas. Esses números diferem ligeiramente dos apresentados por ele em artigo anterior (NEVES, 2000, p. 14), por força da evolução do trabalho.

            Diante da impossibilidade de incluir os incipits musicais, Neves tomou as seguintes decisões:

  • acrescentar, ao título da obra, o incipit do texto entre colchetes, no caso de obras vocais (Ex: obra nº 36 do catálogo manuscrito - Ode à Sapho [Heureux qui près de toi]);
  • destinar uma coluna à tonalidade da obra, deduzida a partir do incipit musical;

            No campo de observações, acomodou autoria de texto, dedicatória, ocasião para a qual a obra foi composta, além de suas próprias observações.

            No que tange às informações sobre edição, J. M. Neves criou um campo correspondente à indicação “gravé”. No campo de Observações, armazena as demais informações relativas às edições, caso existam.

            Criou ainda dois campos – “Espécie” e “Arquivo” – para indicar a localização de partituras. O campo Espécie indica através de valores o tipo de partitura, segundo anotações do musicólogo:

    1. Manuscrito conhecido (ver em que arquivo musical no campo “Arquivo”);
    2. Impresso na BNF;
    3. Cópias manuscrita e impressa (no caso da impressa, apenas quando existe na BNF);
    4. Obra impressa em situação ainda indefinida (podendo ter aparecido com outra denominação no catálogo manuscrito de Neukomm ou em documento não presente neste catálogo)

            Esta última categoria indica claramente que o trabalho do musicólogo estava ainda por concluir.

            O segundo campo, “Arquivo”, foi utilizado para indicar quais arquivos consultados continham partituras de Neukomm, de acordo com a seguinte codificação:

a - Benediktiner-Stift Kremsmünster, Kremsmünster (Alemanha)

b - Bibliothek der Hansestadt Lübeck, Lübeck (Alemanha)

c - Bibliothèque Nationale de France, Paris (França)

d - Biblioteca Nausnaya, Moscou (Rússica)

e - Bibliotheke der Universität, Basel (Suiça)

f - Bibliothèque du Conservatoire Royal de Musique, Bruxelles (Bélgica)

g - Bibliothèque Royale Albert 1er, Bruxelles (Bélgica)

h - D’kansky uçad, Kostel, Nymburk (República Tcheca)

i - Fürst Thurn und Taxis Hofbibliothek, Regensburg (Alemanha)

j - Fürstlich Öttingen-Wallerstein’sche Bibliothek, Harburg (Alemanha)

k - Hofburgkapelle, Viena (Áustria)

l - Klaus-Groth-Museum, Heide (Alemanha)

m - Notenbibliothek der Stadtkantorei, Bad Salzungen (Alemanha)

n - Öffentliche, Basel (Suiça)

o - Pfarrarchiv St. Michael, Zug (Suiça)

p - Pfaarkirche, Viena (Áustria)

q - Pfarrkirche Bibliothek, Benediktbeuem (Alemanha)

r - Reichersberg, Stift (Alemanha)

s - Santini-Bibliothek, Münster – Westfalen (Alemanha)

t - Schleswig-Holsteinsche-Landesbibliothek, Kiel (Alemanha)

u - Seitenstetten, Sift (Alemanha)

v - Slovak National Museum, Bratislava (Eslováquia)

x - Staadtbibliothek, Hanover (Alemanha)

y - Staats und Universitätsbibliothek Carl von Ossietzky, Hamburg (Alemanha)

z - Thuringer Universitäts und Landesbibliothek, Jena (Alemanha)

w - Vorau, Stift (Alemanha)

A - Zisterzienserstift, Bibliothek und Musikarchiv, Wilhering (Alemanha)

B – Zisterzienserstift Musikarchiv, Heiligenkreuz (Alemanha)

C – Nausnaja Musikalnaja Biblioteka (Conservatório Tchaikovsky), Moscou (Rússia)

E – Biblioteca St. Peter, Viena (Áustria)

            Neves privilegiou as informações que caracterizam as obras e não contemplou as que não têm relação com as mesmas: volume, paginação alternativa e outras marcas. Essa linha de conduta se coaduna com o objetivo primordial de facilitar o acesso às obras.

  1. Disponibilidade do catálogo em linha: escolhas, dificuldades e desafios

            Ao iniciar o trabalho sobre o material recebido de José Maria Neves, várias decisões se fizeram necessárias. A primeira e mais importante diz respeito à codificação das entradas, estritamente numéricas no catálogo manuscrito. Optou-se por não adotar a solução de Angermüller (1977), que acrescenta o prefixo NV – Neukomms Werverzeichnis – aos números de catálogo. Seguindo sugestão do musicólogo Marc Vignal, decidiu-se utilizar o prefixo SN, referente às iniciais do autor. Procedimento similar foi adotado no catálogo de obras de Michael Haydn (1737-1806), elaborado por Charles H. Sherman e T. Donley Thomas, em que são apresentas as iniciais do compositor (MH), cujo conteúdo pode ser visualizado no sítio da BNF[6].

            Quando a mesma entrada menciona a transcrição para piano ou piano a 4 mãos, prática frequente de Neukomm, foi criada uma nova entrada com o mesmo código, seguido do sufixo (p) (Ex: SN149(p): L’allegresse publique, transcrição para piano a 4 mãos da marche SN149).

            Os títulos foram cotejados com o catálogo manuscrito e muitos foram corrigidos. Os incipits textuais – incorporados ao título por Neves – foram deslocados para o campo “Obs. J.M.Neves”.

            A autoria de texto, dedicatória e observações existentes no catálogo manuscrito foram acomodadas em campos específicos. Quando possível, os autores de texto, muitas vezes indicados por Neukomm apenas pelo sobrenome, foram identificados pelo nome completo (Ex: na entrada SN127, onde constava apenas “Metastasio” foi substituído por “Pietro Metastasio”).

            Com relação à Instrumentação, as informações iniciais dos arquivos transmitidos foram cotejadas com o catálogo manuscrito, possibilitando identificar e completar as entradas para a maioria das obras. As menções à instrumentação foram normatizadas para aderência ao padrão adotado no portal. Por exemplo, onde se lia “coro a capella”, optou-se por deixar apenas “Coro”; “órgão expressivo” ou “orgue expressif” foi substituído por “Harmônio”, e assim por diante. A terminologia é internamente codificada, o que possibilita a tradução para outros idiomas.

            O campo Gênero foi mantido de acordo com a nomenclatura adotada por Neves, mesmo havendo casos em que a classificação pode parecer ambígua, como ocorre com os gêneros Religioso e Missa. Os demais gêneros enumerados são Lied, Dramático (referente a óperas), Concerto, Marcha, Cânon, Ária, Fantasia, Cantata, Abertura, Estudo, Sinfonia e Música de Câmara.

            O campo Fonte reúne as informações que Neves havia subdividido em Espécie e Arquivo, indicando se a obra é manuscrita e em qual arquivo se encontra. No caso de obras instrumentais cujas partituras pertencem ao acervo da BNF, são indicadas as cotas levantadas por Santos (2009).

            Quanto às informações sobre edição, decidiu-se informar o nome da editora, quando conhecido, ou apenas a indicação “gravé”, quando indicado no catálogo manuscrito.

         

  1. Conclusão

“... a intercomplementaridade de nossos arquivos musicais somente produzirá seus resultados quando pudermos lançar mão de catálogos sistemáticos que incluam todas as informações disponíveis (...) e que, por sua construção, permitam todos os cruzamentos desejáveis...” (NEVES, 1998).

      Catálogos têm por objetivo facilitar a identificação e acesso às obras de um compositor, seja por título, instrumentação, período de composição, gênero, etc. Quando impressos, a busca por campos específicos só é viável através de índices anexos. A disponibilidade através da web possibilita a organização das informações de maneira a facilitar a busca e esta é a principal motivação do presente trabalho. O ponto de partida foi a base de dados legada por José Maria Neves (2001), elaborada a partir da transcrição do catálogo manuscrito Ms.8328 da BNF e de pesquisas por ele realizadas em diversos arquivos.

      Uma das principais vantagens da publicação em linha é a possibilidade de fazer modificações, correções e acréscimos a qualquer tempo. Um primeiro desafio que se apresenta é acomodar no catálogo as cerca de 300 obras listadas na base de dados de Neves não incluídas no catálogo manuscrito. Para tal, é necessário o cotejamento com as partituras, com o objetivo de estabelecer, quando possível, a datação que guiará a inclusão no ponto apropriado. O cotejamento com as partituras possibilitará ainda a complementação de títulos e a identificação de cotas nos arquivos, a exemplo do que já foi realizado para as obras instrumentais (SANTOS, 2009).

      A infraestrutura de implementação dos catálogos em linha no portal Musica Brasilis prevê a possibilidade de armazenamento dos incipits musicais, sob a forma de imagens, o que permitirá a disponibilidade online de catálogos temáticos dos compositores, a exemplo do RISM. A integração com o RISM será um importante passo para ampliar a divulgação dos repertórios brasileiros.

Para acessar o catálogo de obras de Neukomm: /compositores/sigismund-neukomm

 

Referências Bibliográficas

ANGERMÜLLER, R. Sigismund Neukomm. Werkverzeichnis, Autobiographie, Beziehung zu seinen Zeitgenossen. München-Salzburg: Musikverlag Emil Katzbichler, 1977.

BEDUSCHI, L. Sigismund Neukomm (1778-1858). Sa vie, son oeuvre, ses canons énigmatiques. Tese de Doutorado. Universidade Paris IV –Sorbonne, 2008. Paris, 2008.

LANZELOTTE, R. Sistemas de Informações Musicais: disponibilidade de acervos musicais via Web. Opus - Revista da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, v. 10. Campinas, 2004.

LANZELOTTE, R. Modelos de dados para Catálogos Temáticos. In: VI Encontro de Musicologia Histórica Brasileira, 2006, Juiz de Fora. Anais do VI Encontro de Musicologia Histórica. Juiz de Fora: Centro Cultural Pró-Musica, 2006, p. 362 – 375.

NEUKOMM, S. Esquisse biographique de Sigismond Neukomm, écrite par lui-même [1859]. Disponível em: http://www.musicologie.org/theses/neukomm_01.html.

NEVES, J.M. Arquivos musicais brasileiros. In: ANAIS DO I SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DE MUSICOLOGIA, 1998, Curitiba, p. 137-163.

NEVES, J.M. A Música de Sigismund Neukomm na Bibliothèque Nationale de France. Brasiliana. Revista da Academia Brasileira de Música. Rio de Janeiro, nº 6, p. 12 – 19, 2000.

RISM. Répertoire International des Sources Musicales. http://www.rism.info. Acesso em 24/4/2017.

SANTOS, J.A. Sigismund Neukomm -  catálogo de obras instrumentais. Dissertação de mestrado, 2009. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2009.

 

 

[1] Verzeichniss meine Arbeiten / In chronologische Ordnung / Angefangen in Monath Jänner 1804 / im 26th Jahre meines Alters / Von einem früheren Verzeichniss abgeschrieben / London am 1en Jänner 1832 (ANGERMÜLLER, 1977, p. 57)

 

[2] NB à partir d’ici la pagination diffère avec l’original, dont les chiffres rouges indiquent les pages (ANGERMÜLLER, 1977, p. 116)

[3] Je laisse à la charge de mon frère de faire imprimer soigneusement aux types mobiles et au nombre de trois cents exemplaires le catalogue de mes ouvrages que j’ai commencé à Vienne au mois de Janvier 1804. Ce catalogue pourra être imprimé par Breitkopf et Härtel à Leipzig et mon frère consultera à ce sujet mon ami Moscheles qui sera prié de vouloir en faire corriger les épreuves sous sa surveillance. Les exemplaires de ce catalogue seront distribués comme un souvenir de ma part à tous mes amis en Allemagne, en France, en Angleterre, en Écosse et en Irlande, ainsi qu’aux sociétés dans tous les pays qui m’ont fait l’honneur de porter mon nom sur la liste des membres de ces sociétés. Mon frère adressera aussi – francs de port – des exemplaires de ce catalogue aux bibliothèques publiques de tous les pays et endroits ou dans lesquels j’ai séjourné. (ANGERMÜLLER, 1977, p. 8)

[4] Départ pour Rio de Janeiro le 2 avril 1816 à bord de la frégate l’Hermione (port de. Brest).

Arrivé à Lisbonne le 7 avril. Pendant mon court séjour à Lisbonne, à Funchal (île de Madeira) et à Sta. Cruz (Ténériffa), ainsi que durant la traversée, j’ai composé plusieurs morceaux à 3 et à 4 parties (musique d’église, sur des paroles latines) et quelques morceaux pour la bande militaire à bord de la frégate (ANGERMÜLLER, 1977, p. 79)

[5] wenn nichts anders angegeben (ANGERMÜLLER, 1977, p. 262)

[6]Johann Michael Haydn (1737-1806), a chronological thematic catalogue of his works by Charles H. Sherman and T. Donley Thomas” – http://data.bnf.fr/13895054/michael_haydn/