O tango brasileiro é um gênero mal definido. Uma comparação, por exemplo, entre os tangos de Ernesto Nazareth, Eduardo Souto (“O Despertar da Montanha”, “Do Sorriso da Mulher Nasceram as Flores”) e Henrique Alves de Mesquita (“Ali Babá”) revelará características bem diferentes. Felizmente Nazareth nos deu um precioso esclarecimento sobre os seus tangos numa conversa reproduzida por Brasilio Itiberê no ensaio “Ernesto Nazareth na Música Brasileira”: “Certa vez meu amigo Oscar Rocha, melômano e folclorista e um dos homens que melhor conheceram a vida e a obra de Nazareth, perguntou-lhe como é que tinha chegado a compor seus tangos, com esse caráter rítmico tão variado. Nazareth respondeu com simplicidade que ouvia as polcas e lundus de Viriato, Callado, Paulino Sacramento e sentiu vontade de transpor para o piano a RÍTMICA DESSAS POLCAS-LUNDUS.” Pertence assim à polca-lundu a rítmica que o genial compositor levou para os seus tangos ou, por outras palavras, OS TANGOS DE NAZARETH SÃO UMA REQUINTADA ESTILIZAÇÃO PIANÍSTICA DA POLCA-LUNDU. Como no final do século XIX ainda não havia se fixado o uso da palavra choro para designar o gênero, Nazareth simplesmente adotou a palavra tango para classificar essas composições, hoje integradas ao universo do choro, que abrange as variadas formas do gênero. A propósito, os chorões pioneiros tocavam choros (uma invenção deles) achando que tocavam polcas. O mesmíssimo termo tango foi também empregado por Chiquinha Gonzaga e vários de seus contemporâneos para “rotular” maxixes (termo considerado depreciativo que poderia prejudicar a venda de partituras). Naturalmente, em respeito à escolha de Nazareth, não teria cabimento agora passar a chamar seus tangos de choros.