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Exposição Virtual de Lundus do Acervo Mozart de Araújo / CCBB-RJ

08/08/2023 - Martha Ulhôa

A Exposição Virtual de Lundus (http://www2.unirio.br/lamac/galeria-virtual/lundus-1) do LAMAC (Laboratório de Memória das Artes e da Cultura – UNIRIO) exibe documentos digitais reunidos a partir do levantamento e da digitalização realizados na coleção da Fundação Banco do Brasil, atualmente sob a guarda do Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro.

Essa iniciativa foi realizada no âmbito da pesquisa "Matrizes Musicais e Matrizes Culturais da Música Brasileira Popular", coordenada pela Professora Dra. Martha Ulhôa, motivada pela dificuldade de acesso físico à coleção.

Os lundus apresentados aqui se encontram na coleção Mozart de Araújo, disponível para consulta na Biblioteca do Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB-RJ).

O acervo do musicólogo, professor, historiador e violonista José Mozart de Araújo (1904-1988) pertencente à Fundação Banco do Brasil e abrigado no CCBB-RJ, é de valor inestimável para o estudo da música brasileira. Esse arquivo-biblioteca é, segundo o musicólogo Vicente Salles, "talvez o maior acervo particular organizado no país depois da coleção Abrahão de Carvalho" (Salles in Araújo 1994, p. 13). [A coleção Abrahão de Carvalho, adquirida pelo Governo Federal em 1953, compõe, juntamente com os acervos musicais pertencentes às Imperatrizes Leopoldina e Thereza Christina, o núcleo da Divisão de Música da Biblioteca Nacional.]

Pesquisador meticuloso, Mozart de Araújo se interessou principalmente pela investigação das matrizes musicais da música brasileira, tendo estudado sobretudo a modinha, o lundu, o choro e o nacionalismo musical no Brasil. Publicou somente um volume sobre a Modinha e o Lundu no século XX (1963), mas guardava material vasto sobre o assunto, com pesquisas feitas na Áustria, na França e em Portugal. Dentre as 108 partituras de lundu encontradas, foram selecionadas e xerografadas cerca de 40 partituras escritas no século XIX como material para análise e interpretação.

O LUNDU

O termo LUNDU tem sido utilizado para indicar tanto dança quanto canção.

Enquanto DANÇA, desde o século XVIII, seja na literatura, na pintura ou nos entremezes teatrais da primeira metade do século XIX, o lundu capturou o imaginário urbano como exótico, provocante e cheio de lascívia. Justamente com a cachuca e o fandango, o lundu exercia o papel do "Outro Exótico" (indiscriminadamente "Espanhol", "Oriental" ou "Africano") no imaginário da sociedade emergente.

Como CANÇÃO temos várias situações:

- Lundu-canção - Início do século XIX: Lundus compostos para voz e piano (ex. Lá no largo da Sé velha, de Cândido Inácio da Silva e Araújo Porto Alegre). Versões/composições estilizadas por compositores letrados ou estrangeiros.

- Lundu-canção - Final do século XIX: Lundu canção usado no teatro com letras satíricas. Partituras impressas DEPOIS do sucesso no teatro musical. Cancioneiros com letras de lundus.

- Lundu-canção - Início do século XX: Repertório do teatro em gravações pioneiras.

Os LUNDUS apresentados nessa EXPOSIÇÃO pertencem à segunda categoria. Entre eles O Mugunzá, com letra de Bernardo Lisbôa e música de Francisco Antônio de Carvalho (RJ 1840? RJ? 1900?), Lundu Baiano cantado pela atriz Pepa Ruiz no segundo ato da revista portuguesa Tim-tim por tim-tim (1892). Com vários dos sucessos teatrais, a canção foi impressa por Manoel Guimarães para ser executada nos salões cariocas.

Segundo Mário de Andrade, nas anotações que fez para o Dicionário Musical Brasileiro - DMB (1989), o LUNDU é "Canto e dança populares no Brasil durante o século XVIII, introduzidos provavelmente pelos escravos de Angola, em compasso 2/4 onde o primeiro tempo é frequentemente sincopado. (...) O lundu canção foi conhecido durante o primeiro Império e, no século XIX, depois de ter frequentado os salões familiares, caiu em desuso. A falta de documentos antigos dificulta a caracterização do lundu como forma; as peças encontradas apontam como traço comum o emprego da sincopa."

Durante o século XIX, estilos musicais europeus e africanos se misturaram no Brasil, produzindo adaptações de danças europeias tais como a polca, o schottisch, bem como novos gêneros como o lundu sugestivo e brejeiro e a modinha sentimental. Nas partituras sobreviventes, o lundu pode ser caracterizado por africanismos nas letras e ritmos sincopados, aliás, um elemento comum a várias formas e ritmos brasileiros.

As partituras levantadas no acervo Mozart de Araújo para a exposição virtual encontram-se disponíveis no portal Musica Brasilis:

- Lundu do padre fuzileiro (Abdon Milanez)

- O buraco (Albertino Pimentel)

- Lundu do fazendeiro (Assis Pacheco)

- Chá preto, sinhá? (Elias Álvares Lobo)

- O bilontra – Ataca Filippe (João Pedro Gomes Cardim)

- Coração para alugar (João Luiz d’Almeida Cunha)

- Samba fidalgo (Leopoldo Fróes)

- Você viu? (M. J. Coelho)

Agradecimento: à Marcilio Lopes, pela preparação das partituras para o portal.

Bibliografia

ABREU JÚNIOR, Jupter Martins de. Biblioteca digital para a coleção de lundus do acervo Mozart de Araújo. 2006. Dissertação (Mestrado em Música) - Programa de Pós-Graduação em Música, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

ANDRADE, Mário de. Dicionário musical brasileiro; coordenação Oneyda Alvarenga, 1982-84, Flávia Camargo toni, 1984-89. Belo Horizonte: Itatiaia / [Brasília]: Ministério da Cultura / São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da universidade de São Paulo, 1989. 701 p. (Coleção reconquista do Brasil. 2 série, v 162).

ARAÚJO, Mozart de. A Modinha e o Lundu no Século XIII. São Paulo: Ricordi, 1963

________________. Rapsódia Brasileira - Textos reunidos de um militante do nacionalismo musical. Introdução por Jairo Severiano; Seleção, prefácio e notas por Vicente Salles. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, 1994.

KEIFER, Bruno. A Modinha e o Lundu. Porto Alegre: UFRGS/Movimento, 1977

LIMA, Edilson Vicente de. A modinha e o lundu: dois clássicos nos trópicos. 2010. Tese (Doutorado em Música) - Programa de Pós-Graduação em Música, Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.

SANDRONI, Carlos. "Doces lundus, pra nhonhô sonhar...". In: ______. Feitiço Decente - Transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro: Jorge Zahar/Editora UFRJ, 2001, p. 39-61.

SIQUEIRA, Batista. Lundum X Lundu. Rio de Janeiro: EMUFRJ, 1970

TINHORÃO, José Ramos. Os poetas românticos e a canção seresteira. In: _______. História Social da Música Popular Brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998, p. 129-152.