O musical clássico que vem embalado como um show de rock
Espetáculo com projeções de alta tecnologia cobre cinco séculos de música e sua relação com os ciclos econômicos, no Espaço Tom Jobim.
A cravista Rosana Lanzelotte lança a pergunta:
— Se os roqueiros podem, por que não nós?
A resposta está em “Musica Brasilis sons e imagens”. Assim como os shows de rock levam ao palco sua parafernália eletrônica, suas luzes, seus efeitos especiais, o espetáculo desta quarta, às 20h, no Espaço Tom Jobim, junta projeções à música clássica. A ideia é ampliar a plateia do clássico.
— Há uma falta de renovação do público. Ao mesmo tempo, você vê a existência de várias iniciativas que mostram que há interesse.
Ela cita alguns concertos e projetos:
— Em 2002, na igreja da Rocinha, havia jovens funqueiros extasiados diante da música de Villa-Lobos (tocada pelo grupo Metal Transformação). Ano passado, o projeto Aquarius com a OSB no Complexo do Alemão atraiu cinco mil pessoas. E você tem jovens pobres com violinos em diversas orquestras que se multiplicam pelo país, a exemplo do projeto venezuelano (El Sistema). Temos que fazer a ponte com esse público.
No espetáculo que ela concebeu, com 75 minutos de duração, o ritmo das projeções — a cargo do ateliê de design, arte e tecnologia SuperUber — é ditado pela música. O programa foi desenvolvido pelo americano Stephen Malinovski, que trabalhou com Björk no disco “Biophilia”
— As projeções não são pano de fundo. Elas dão uma dimensão cênica ao espetáculo —diz Rosana, para quem esse tipo de apresentação é na verdade um retorno ao passado. — Voltamos aos nossos antepassados portugueses, para quem a música fazia parte de um espetáculo multimidiático, ambientado em igrejas barrocas repletas de talhas douradas, onde o paramento dos padres não estava muito distante dos figurinos de uma ópera.
A trilha sonora cobre cinco séculos de música brasileira.
— É um casamento da música com os ciclos econômicos — diz ela sobre o espetáculo, com patrocínio do BNDES. — Contamos a história das riquezas musicais do país produzidas pelas riquezas econômicas de cada ciclo (açúcar, ouro e diamantes, café e borracha).
Assim, os primeiros tempos são embalados por cânticos tupinambás
— O suíço Jean de Lery veio ao Rio no século XVI e ficou tão encantado com o que ouviu dos índios que anotou.
O século do açúcar é ilustrado com peças como “Herói, egrégio, doutor, peregrino”, de autor anônimo. O ouro tem obras como “Sonata de Sabará”, também de autor anônimo. O café traz compositores como Ernesto Nazareth. O ciclo da borracha aparece com músicas como “Azulão”, de Jayme Ovalle, e “Choro nº 1”, de Villa-Lobos. Além dos cinco músicos — Rosana entre eles — o espetáculo traz a soprano Rosana Lamosa e o o tenor Fernando Portari, que também é o diretor. Textos de escritores costuram o repertório. Antes das músicas, o ator Mateus Solano lê trechos de obras como “Belém”, de Manuel Bandeira, “O guarani”, de José de Alencar, e “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles.
— É uma amostragem muito representativa do que aconteceu em cinco séculos de música clássica brasileira — diz ela, criadora do Instituto Musica Brasilis, que resgata e digitaliza partituras. —Botamos as partituras on-line para os músicos poderem tocar e plateias conhecerem. Um gol de placa foi disponibilizar, pela primeira vez , toda a obra para piano de Ernesto Nazareth.