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Cravo

O cravo é um instrumento de teclado que possui formato semelhante ao do piano de cauda antigo, porém pode ser composto por um ou dois teclados. Difere do piano pelo fato de ter seu som produzido através de martinetes que beliscam as cordas.

Como funciona?

O som do cravo é produzido através de martinetes (ou saltadores) que pinçam ou beliscam suas cordas.

Parte superior de um saltador. 1) corda, 2) eixo da lingüeta, 3) lingüeta, 4) plectro, 5) amortecedor. Fonte: Nojhan - https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Clavecin_sautereau.sv

Funcionamento do saltador. A) Saltador na posição normal. O amortecedor está encostado à corda para evitar sua vibração. B) Quando uma tecla é pressionada, o saltador é levantado e o plectro toca a corda e começa a se dobrar. C) O plectro tange a corda, que emite uma vibração (som). O saltador atinge o trilho do saltador. D) Quando a mão do intérprete libera a tecla, o saltador cai de volta, sob a ação do próprio peso e o plectro se inclina para trás, para permitir que passe pela corda sem tocá-la. 1) trilho superior, 2) feltro, 3) amortecedor, 4) corda, 5) plectro, 6) lingüeta, 7) eixo da lingüeta, 8) mola, 9) saltador, 10) rotação da lingüeta. Fonte: Nojhan - https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=87921

Um pouco de história...

A referência mais antiga sobre sua criação é datada do século 14, na Itália, quando inicialmente foi chamado de clavicembalum. É considerado o mais importante e versátil instrumento de teclado desde finais do século 16 até o início do século 19, depois do órgão. Foi amplamente utilizado na Europa tanto para o desempenho de música para teclado solo, como também para música de câmara, orquestral e ópera. Além da Itália, outros centros de construção do instrumento floresceram, como a região de Flandres, Alemanha, Portugal, Inglaterra e França. O cravo caiu em desuso no início do século 19 e seu renascimento moderno se deu no início do século 20, a partir da construção de instrumentos industriais por uma renomada firma de pianos.


Cravo de um manual italiano (séc. 17)- Victoria and Albert Museum - Londres - Inglaterra

 


Cravo de dois manuais de Luigi Baillon (séc. 18) - St Cecilia's Hall Museum of Musical Instruments - Edimburgo - Escócia

No Brasil, o cravo já estava presente no meio musical carioca desde pelo menos o ano de 1721, data do mais antigo registro de importação deste instrumento na cidade. O documento cita "cravos grandes de tocar... 19$000 réis". Até 1830 o Jornal do Commercio ainda anunciava a venda de cravos por moradores do Rio de Janeiro. 

Certamente o cravo foi muito utilizado no meio musical carioca tanto por instrumentistas profissionais, quanto amadores. O viajante inglês Sir George Stauton, em seu passeio pelo Rio de Janeiro, em 1792, constatou que em algumas casas as mulheres "distraiam-se, às noites, tocando em algum tipo de instrumento musical, especialmente o cravo ou viola".

Após a chegada de D. João VI no Rio de Janeiro em 1808, os cravos também passaram a integrar os salões da corte. O pintor Henrique Bernardelli (1858-1936) produziu a tela intitulada "D. João VI ouvindo o padre José Maurício", em que é mostrada uma cena onde o mais famoso padre músico da cidade toca cravo para o rei.

Durante o século 19 os cravos eram anunciados para venda nos jornais cariocas. Em 1819, a Gazeta do Rio de Janeiro publicava: "Vende-se hum cravo de penas de Mathias Bosthem, na rua da Alfândega n. 14, casa de leilão". Tal instrumento era de um dos mais importantes construtores portugueses da época e indica que estes instrumentos eram basicamente importados de Portugal, que possuía certa tradição e características próprias na manufatura destes instrumentos de tecla.

Além dos cravos grandes, as espinetas (instrumento de mesmo mecanismo que o cravo, porém de dimensão menor e formato diferente) foram também importadas no Rio de Janeiro. Um decreto régio de 1829, fixava os preços de "cravos grandes para tocar... 80$000 réis" e de "cravos pequenos ou espinetas... 30$000 réis".

O único exemplar sobrevivente de uma espineta portuguesa do construtor Mathias Bosthem, datada de 1785, encontra-se atualmente no Museu Imperial de Petrópolis. O instrumento pertencia a José da Cunha Porto e foi doado à Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 1902, que mais tarde o transferiu para o local onde está nos dias de hoje.

Quanto aos cravos, o único histórico sobrevivente é um instrumento também português de Jozé Cambiazo, de 1769, de propriedade privada localizada no Rio de Janeiro. Na verdade, o instrumento foi transformado em piano e provavelmente pertencia ao português Paulo Perestrelo da Câmara, que saiu de Lisboa em 1841 para se estabelecer no Rio de Janeiro.

Cópias de cravos históricos passaram a ser feitas no Rio de Janeiro no século 20 por Roberto de Regina a partir do final da década de 1960, que além de construir os instrumentos era ainda cravista e professor.

O cravo continua presente no cenário musical contemporâneo carioca e brasileiro. Espetáculos teatrais, montagens de óperas e concertos de música erudita e de música brasileira são alguns exemplos da versatilidade do uso deste instrumento.

Está curioso(a) para saber como se toca o instrumento? Assista ao vídeo de Rosana Lanzellote tocando um trecho de um lundu, de Spix e Martius.