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Um Percurso de Pesquisas sobre Flausino Valle desde o Long Play de Jerzy Milewski (1985)

Leonardo Vieira Feichas, Emerson Luiz de Biaggi, David John Cranmer

Revista Vórtex | Vortex Music Journal | ISSN 2317–9937 | http://vortex.unespar.edu.br/ D.O.I.: https://doi.org/10.33871/23179937.2023.11.1.7431

Resumo

Este artigo apresenta percurso de trabalhos realizados sobre o compositor mineiro Flausino Valle (1894-1954). Valle foi violinista, escritor, poeta, professor e compositor que nasceu em Barbacena, mas viveu a maior parte de sua vida em Belo Horizonte. O objetivo desse trabalho é contribuir com pesquisadores interessados na obra de Valle, fornecendo subsídios para o desenvolvimento inicial ou a continuidade de seus estudos. Como metodologia, partimos de levantamento de trabalhos em repositórios de universidades e de busca por referências em trabalhos já publicados sobre o compositor Como resultado, observamos um escopo importante de pesquisas sobre Valle, com abordagens e objetivos distintos, que, no entanto, não esgotam novas possibilidades de caminhos de pesquisa.

Palavras-chave: Flausino Valle; Música brasileira; violino brasileiro.

Abstract

This article presents a path regarding on researches carried out on the composer from Minas Gerais (Brazil) Flausino Valle (1894-1954). Valle was a violinist, writer, poet, teacher and composer who was born in Barbacena, but lived the greater part of his life in Belo Horizonte. The aim of this text is to contribute with an overview of researchers who have interested themselves in Valle’s work, proposing paths for initial development or continuity in their studies. In methodological terms, the point of departure is a survey of university repositories and a search for references in already published texts on the composer. As an outcome we may observe an important range of research done on Valle, with distinct approaches and objectives, which do not, however, exhaust new possibilities for avenues of research.

Keywords: Flausino Valle; Brazilian music; Brazilian violin.

Propomos neste artigo um estado da arte sobre pesquisas realizadas sobre o compositor mineiro Flausino Valle (1894-1954). Conforme o artigo ressalta, diversas pesquisas em vários campos de estudos foram realizadas sobre Valle. Porém, acreditamos que ainda há possibilidades de investigações tanto em aspectos biográficos como de estudos específicos sobre suas obras. Com esse trabalho buscamos colaborar com as pesquisas atuais e futuras que envolvam este compositor.

 A revisão da literatura sobre Valle e seu contexto é apresentada aqui nos trabalhos de Milewski (1985), Alvarenga (1993, 2016), Paulinyi (2010, 2010, 2014, 2021), Frésca (2008, 2008, 2016), Feichas (2013, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 2021), Keller e Feichas (2016), Abreu (2015) e Messina et al. (2019, 2020), Chtereva (2019), Berbert (2020) e Silvestre (2022). Esses trabalhos não consistem a totalidade dos escritos a respeito de Valle e/ou sua obra que temos conhecimento, mas foram aqueles a que se conseguiu ter acesso e, principalmente, que julgamos serem abordagens diversificadas e que fornecem um ponto de partida ou de continuidade nos estudos sobre Flausino Valle. Trata-se de uma trajetória de investigações de caráter histórico, estilístico, idiomático, dentro de áreas consolidadas da música como a musicologia, performance, análise, cognição, mas também sob o prisma de áreas que são epistemologias não hegemônicas, como a área de Pesquisa Artística (Artistic Investigation). Acreditamos que essas pesquisas fornecem uma importante fonte de conhecimento para as considerações interpretativas que auxiliarão pesquisadores e estudantes ao apontar para novos prismas de exploração do tema.

1. O trabalho de Milewski

Identificamos como um importante ponto de partida para “revelar” o compositor Flausino Valle e sua obra, o trabalho realizado em 1985 pelo violinista polonês radicado no Brasil Jerzy Milewski. Antes desse trabalho, Valle já havia alcançado certa visibilidade, que pode ser percebida ao ter o Prelúdio XV- Ao Pé da Fogueira gravado por Jascha Heifetz (1901-1987). No entanto, optamos por utilizar o termo "revelar" porque até então não havia sido realizado um trabalho de compilação de dados e informações como o de Milewski.

Segundo Milewskyi, um dos Prelúdios de Flausino Valle, o Prelúdio XV- Ao Pé da Fogueira, chegou às mãos de Jascha Heifetz quando este veio a Belo Horizonte, no teatro Palácio das Artes, aproximadamente entre 1927 e 1928 para um concerto, e Valle teve a oportunidade de entregar alguns manuscritos ao renomado violinista lituano1. Heifetz, ao retornar para os Estados Unidos, não só gravou o citado Prelúdio, como compôs um acompanhamento para piano, auxiliando na divulgação dessa obra. Outros violinistas o gravaram desde então, sendo os outros 25 Prelúdios pouco conhecidos, mesmo no Brasil. Esse contato de Heifetz com o Prelúdio XV – Ao Pé da Fogueira de Valle gerou a edição da partitura e a gravação de um masterclass sobre essa obra.2

Adotamos o trabalho de Milewski como um ponto de partida para pesquisas acadêmicas porque nos certificamos que trabalhos relevantes como os de Alvarenga (1993), Frésca (2008) e Feichas (2013) tiveram início a partir do contato com seu trabalho. Em um painel dedicado a Valle, que aconteceu na abertura do “V Encontro de Cordas Flausino Valle” (modalidade on line), os três pesquisadores identificaram como ponto de partida inicial de suas pesquisas o contato com a gravação e o encarte do LP de Milewski.3

Milewski gravou um LP intitulado “Flausino Valle: O Paganini Brasileiro”, acompanhado por um encarte, com informações e comentários de diversos compositores e críticos musicais brasileiros sobre a obra do compositor. A partir dessa obra surgiram investigações acadêmicas que abordaram o compositor e sua obra sob o prisma histórico e estilístico. Nesse LP, que mais tarde tornou-se um CD, o violinista gravou 21 dos “26 Prelúdios Característicos e Concertantes para Violino Só”. O trabalho inclui alguns comentários que relatam não só a história de como Milewski conseguiu ter acesso às obras de Valle, que lhe despertaram profundo interesse, mas também mostra, de uma maneira geral, características das obras através de comentários, análises e apresentação de documentos históricos.

No depoimento do compositor Marlos Nobre (MILEWSKI, 1985, p. 44) revela-se o importante trabalho pioneiro de Milewski e considerações interessantes sobre a obra de Valle:

A música no Brasil ainda é um campo razoavelmente inexplorado, apresentando-se como uma mina de ouro a ser revisitada permanentemente. [...] Esse é o caso do disco do violinista Jerzy Milewski, ao entusiasmar-se com as pequenas pepitas musicais do compositor mineiro Flausino Vale. Dele se conhecia sobretudo uma pequena pecinha Ao Pé da Fogueira que tinha merecido a atenção de um Heifetz, um Szeryng, um Francescatti. Entretanto - fato típico da inconsciência e desinteresse nacionais pelos próprios valores - foi tudo como fogo de palha, sem consequência. Era óbvio que quem escreve uma peça tão intensamente violinística com Ao Pé da Fogueira, teria possivelmente outras no mesmo diapasão não tendo “acertado” apenas por acaso em uma peça ocasional. Deveriam existir co-irmãs desta obrinha tão característica.

Ao discorrer a respeito dos efeitos causados pelos Prelúdios, Milewski aponta:

E, realmente, esta coleção de “achados” para violino são de maneira a entusiasmar a qualquer cultor de instrumento. Há uma profusão de efeitos puramente instrumentais e alguns exemplos de técnica violinística que só se encontram similares na série dos Caprichos de Paganini: cordas duplas, oitavas, pizzicatos arpejados e alternando com a mão direita e esquerda, os mais diversos harmônicos, golpes de arco arpejados, jetés, notas duplas repetidas, trechos em surdina, etc. Todos esses efeitos estão ligados muito estreitamente, na música da Flausino Vale, a uma intenção nitidamente descritiva, expressado com uma certa ingenuidade musical que não deixa de ter seu encanto, dada a total sinceridade de expressão peculiar do compositor. (MILEWSKI, 1985, p.44)

Ainda no trabalho desse autor, o compositor Ronaldo Miranda chama a atenção para a maneira com que Valle utiliza os recursos técnicos e a criatividade no uso do material musical (MILEWSKI, 1985, p.46):

Há inclusive recursos pouco usados pelos compositores brasileiros de sua época, como sons harmônicos, e até mesmo uso percussivo da madeira do instrumento para sugestivas batucadas. Enfim, mais do que pela originalidade e profundidade da mensagem musical, as obras de Flausino Vale encantam pela riqueza tímbrica e pelo virtuosismo sem gratuidade, fruto do trabalho de quem conhecia minuciosamente o violino e soube retratá-lo em suas criações com muito élan e eclética habilidade na utilização de recursos técnicos.

O que também chama atenção no encarte do LP de Milewski, além dos comentários e documentos como fotos, cartas e poesias de Valle, são as breves considerações musicais a respeito de aspectos técnicos realizadas pelo professor e maestro Aylton Escobar (MILEWSKI, 1985, p. 31 a 41).

Essa breve análise mostra como a pesquisa desenvolvida por esse autor constitui importante contribuição para as investigações a respeito de Valle, já que percebemos que aspectos estilísticos por ele abordados foram retomados nas pesquisas acadêmicas que se seguiram nos anos seguintes.

2. Alvarenga (1993; 2016)

Nesse contexto, a pesquisa de Hermes Cuzzuol Alvarenga surge como o primeiro trabalho acadêmico (dissertação de mestrado) no Brasil sobre Flausino Valle de que temos conhecimento. Nesse trabalho, de 1993, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o pesquisador aborda tópicos considerados importantes na linguagem musical dos 26 Prelúdios. O autor associa uma análise musical estilística a um breve panorama biográfico a respeito de Valle. Na parte analítica, que é o principal foco do trabalho, Alvarenga observa três características relevantes na obra de Valle: a imitação, a descrição e a caracterização. A caracterização é representada tendo como exemplo como o uso dos acordes de quatro sons que representariam o som da viola (Alvarenga, 1993, p. 28):

No Prelúdio I (Batuque), composto em 1922, Valle apresenta um importante elemento de caracterização da viola caipira, sugerida no início da peça através do uso de uma sequência de acordes de quatro sons. Nesses acordes, a presença do bordão, representado pela nota Sol 3 (IV corda solta do violino) e o paralelismo de sextas, caricatura a técnica de improvisação musical típicas dos violeiros.

A respeito da imitação, Alvarenga (1993, p. 35) afirma que:

Na imitação, Valle vai além das sutilezas usadas sugerindo aspectos marcantes do objeto caracterizado. Nesse caso, o compositor procura transcrever em seu texto musical a sonoridade peculiar do objeto imitado, usando os recursos disponíveis no violino ou fazendo experimentações em busca de alternativas sonoras que traduzam suas ideias.

A descrição musical em Valle, segundo Alvarenga (1993, p. 38), mostra-se mais abrangente e de maior dificuldade para se identificar devido ao caráter subjetivo, citando como exemplo a relação do texto musical com o título. De fato, essa questão em Valle mostra-se um desafio a ser entendido. Alvarenga (1993, p. 39) cita o Prelúdio I - Batuque como o "primeiro prelúdio descritivo". Ele se apoia na ideia de a manifestação descritiva do Prelúdio estar presente no elemento musical de caráter percussivo realizado ao violino.

Ainda no decorrer de sua dissertação, o pesquisador apresenta considerações sobre os aspectos da linguagem violinística e a maneira como Valle a emprega. Como conclusão, ele mostra que Valle poderia ser considerado mais como um violinista que explorava a linguagem violinística do que um compositor com domínio de técnicas composicionais e volta a reforçar o caráter imitativo das obras e de “peças características” com um apelo extramusical. A dissertação de Alvarenga tem a importância de ser um primeiro trabalho com considerações mais aprofundadas a respeito dos Prelúdios.

Em 2016, Alvarenga e Ribeiro realizaram uma análise técnico-pedagógica de prelúdios selecionados que, segundo o critério dos investigadores, são peças que apresentam características de estudos:

É possível notar que Vale reproduz em seus prelúdios características técnicas semelhantes àquelas encontradas em estudos técnicos tradicionais para violino. Embora esta proximidade seja perceptível em alguns prelúdios, há também outros onde existe diluição do foco pela utilização de fundamentos técnicos diversos. Há também que se observar que a presença de elementos conceituais da linguagem violinística própria do compositor em alguns prelúdios enfraquece a tentativa de conferir status de estudo a todos os prelúdios. Isso exposto, defendemos a hipótese de que existem prelúdios mais funcionais do que outros para serem classificados e utilizados como estudos técnicos para o violino.

A pesquisa de Alvarenga e Ribeiro, portanto, ressalta um caminho que pode ser seguido por futuras pesquisas que desejem abordar aspectos didáticos na obra para violino de Flausino Valle.

3. Frésca (2007; 2008)

Em 2008, a musicóloga e jornalista Camila Frésca, realizou um trabalho de mestrado intitulado uma “Extraordinária Revelação de Arte: Flausino Vale e o violino brasileiro”. Frésca fez um apanhado histórico que certamente se tornou um importante referencial para a continuidade de outras pesquisas sobre Valle e o violino brasileiro. Neste trabalho, a pesquisadora mostra o contexto do qual surgiram os 26 Prelúdios, assim como influências determinantes para a criação desta obra. Associada a essa narrativa histórica da vida e da obra, Frésca ainda realiza uma análise da linguagem musical apoiada na análise feita por Alvarenga (1993). Como principal conclusão, a autora (2010, p. 175) afirma que:

um olhar histórico sobre a composição para violino solo no Brasil permitiu situar a coleção de Prelúdios dentro deste tipo de repertório, explicitando a importante contribuição de Flausino Vale ao gênero. Procurou-se mostrar que a riqueza da obra reside na combinação de diversos elementos: a utilização de temas populares, a escrita idiomática para o instrumento que ao mesmo tempo incorpora procedimentos inusuais de escrita, e a relação muitas vezes feita com algum aspecto da obra e seu dedicatário. O resultado é um conjunto de grande originalidade que é, sobretudo, um retrato musical do homem que o compôs, como alguns dos cronistas explorados já haviam percebido.

Frésca faz referência ao aspecto universal que o Prelúdio XV- Ao Pé da Fogueira de Valle tomou quando foi executado e gravado por Jascha Heifetz (1901-1987): “Desta forma, uma obra que nasce profundamente pessoal e regional consegue comunicar-se e ganhar ares universais quando é interpretada por um dos maiores violinistas internacionais e desperta atenção de outros artistas das mais variadas origens.” E conclui, mostrando o quanto as composições de Valle contribuíram para a construção para uma linguagem violinística nacional (FRÉSCA, 2010, p. 176):

Se no Brasil os 26 Prelúdios Característicos e Concertantes para Violino Só carecem ainda hoje de difusão, houve já à época que o autor estava vivo quem enxergasse a importância de sua contribuição. Lamentando a morte de Flausino, Andrade Muricy afirmou: “Não serão muitos que conheçam esse nome. Entretanto, tenho convicção de que ficará na História da Música Brasileira, pois foi um verdadeiro criador. Modesto, talvez; o seu lugar, porém, não é insignificante, nem despiciendo (...) Modesto, ali, quer significar circunscrição em território reduzido, que entretanto, pode ser rico (...) Essa série faz do seu autor o verdadeiro Ernesto Nazareth do violino brasileiro, e aliás a única contribuição existente que considero importante para a musicografia violinística nacional”. Este mapeamento da criação artística de Flausino Vale resultou também numa biografia musical do artista, compositor-intérprete brasileiro que voltou sua atenção às possibilidades expressivas de seu instrumento, ao mesmo tempo em que estava afinado com os ideais modernistas de construção de uma música de caráter nacional e consequentemente universal.

Para além da contribuição desta dissertação de mestrado, Frésca propõe as edições dos 26 Prelúdios em associação com o violinista Cláudio Cruz4 (1967). Nas edições dos Prelúdios, Cruz apresenta seus dedilhados e arcos e apresenta sua interpretação em um CD dos “26 Prelúdios Característicos e Concertantes para Violino Só”. Trata-se do primeiro registro integral da obra e mostra certamente um valor artístico e de divulgação.

Em 2007 Frésca publicou nos anais do Congresso a Associação Nacional de Pesquisa e Pós Gradução em Música (ANPPOM) um artigo intitulado Flausino Valle e os 26 Prelúdios Característicos e Concertantes para Violino Só. Nesse trabalho, Frésca tratou de aspectos biográficos e sobre a obra, que foi aprofundado em sua dissertação de 2008.

4. Paulinyi (2010; 2010b; 2014; 2021)

Paulinyi (2010) observa especificamente obras de Flausino Valle e de outro importante compositor brasileiro para violino solo, Marcos Salles (1885-1965), com o objetivo de avaliar a concepção dos trabalhos desses compositores na busca por “autonomia artística no início do século XX” (PAULINYI, 2010, p. 2), utilizando como método a comparação de tratados e partituras para violino desacompanhado. O autor estuda a história do arco e do violino, abordando partituras e tratados que mostram a transformação das escolas violinísticas até o século XVIII.

A seguir, Paulinyi caracteriza os aspectos da história do violino no Brasil como eventos intimamente ligados à chegada da corte portuguesa ao Brasil em 1808, que “avivou a circulação cultural afetando diretamente a arte nacional do violino, favorecendo o crescente intercâmbio com a Europa notável até hoje” (PAULINYI, 2010, p. 3).

Após esse panorama, o autor analisa influências europeias presentes nas concepções composicionais de Flausino Valle e Marcos Salles. No capítulo III, no qual trata especificamente sobre Valle, ele introduz a relação de amizade entre os dois compositores para mostrar os caminhos distintos seguidos por ambos e, logo a seguir, aponta algumas características marcantes de Valle:

Marcos Salles e Flausino Vale eram, aproximadamente, de uma mesma geração, sendo o primeiro nove anos mais velho. A carreira dos dois, entretanto, foi muito diferente. Marcos Salles iniciou sua carreira com estudos na Europa, voltando ao Brasil para se estabelecer como professor e artista reconhecido pelo domínio do arco. Já o Flausino Vale raras vezes saiu de Minas Gerais, tornando-se advogado, professor de história da música e folclore, apesar de sempre se destacar como violinista em Belo Horizonte. Entretanto o respeito e admiração dos dois foi mútuo. Se foi marcante a atitude de apoio de Salles na tentativa de apoio de Vale no ambiente cultural carioca, Flausino também se esmerou em divulgar a obra de Salles em Belo Horizonte. Em seu primeiro e tardio recital solo na capital mineira em 1935, Flausino incluiu a cadência à Sonata de Tartini em Sol menor (cognominada de “il trillo del diavolo”) de Marcos Salles como peça autônoma. (PAULINYI, 2010, pp. 91- 92).

A pesquisa de Paulinyi colabora no sentido de entendimento das linguagens violinísticas de Marcos Salle e Flausino Valle. Sua dissertação de mestrado é base para seu livro intitulado Escola franco-belga e o violino solo brasileiro: Flausino Vale e Marcos Salles, publicado em 2014 pela editora Clube de Autores.

O mesmo autor ainda escreveu um artigo sobre o uso da técnica sotto le corde na obra “Variações sobre a canção Paganini”, de Valle. Essa técnica consiste em “passar o arco por baixo das cordas do instrumento posicionando a crina para cima com a finalidade de tocar simultaneamente a I e IV corda. Isso amplia as possibilidades intervalares em duas oitavas” (PAULINYI, 2010, p. 1340). Para ele, o uso dessa técnica expandida na obra de Valle seria inusual, já que a peça é tonal: “trata-se de uma peça tonal com técnicas tradicionais do romantismo, o que torna a introdução do sotto le corde, de uso predominantemente contemporâneo, um elemento surpreendente no contexto da música brasileira para violino da década de 1930” (PAULINYI, 2010, p. 1341). Paulinyi também publicou essas análises em um artigo em inglês5.

Mais recentemente, Paulinyi (2021) publicou uma coletânea completa e bilíngue dos Prelúdios de Valle na versão original para violino só e na respectiva transcrição para viola só6. A publicação dos prelúdios editada por Paulinyi traz uma proposta para uso acadêmico e pedagógico dessas obras, além de ele considerar que são 28 os Prelúdios: os já conhecidos 26, com adição das peças “Canto do Sabiá” e “Saudades da Roça”.

5. A dissertação (2013), tese (2021) e artigos de Feichas

Na dissertação de mestrado de Feichas (2013), intitulada “Os 26 Prelúdios Característicos e Concertantes para Violino Só de Flausino Valle: Observações teórico-práticas para sua interpretação”, o autor realiza uma análise histórica e estilística que dialoga com os trabalhos de Alvarenga (1993) e Frésca (2008), discussões estilísticas (estilo composicional, linguagem violinística e influências) e uma abordagem histórica com fontes primárias. Para além de lançar um olhar analítico e estético da obra, é introduzida uma ferramenta voltada para interpretação e, também, com aspecto didático, chamada de Fichas Interpretativas.

O conceito das Fichas Interpretativas é explicado da seguinte maneira (FEICHAS, 2013, p. 52):

As fichas Interpretativas são simplesmente guias com informações práticas e sucintas de forma a preparar o intérprete para uma execução artística e tecnicamente informada. Essas guias contêm informações relevantes tais como andamento, resumo analítico da estrutura formal, técnicas empregadas, citações de estudiosos ou do próprio compositor que norteiam o processo de construção da interpretação.

Esse conceito visou uma aproximação maior e mais prática da obra com o intérprete e consequentemente, vai ao encontro também do uso pedagógico, já que uma das intenções de Valle ao compor seus Prelúdios era que fossem adotados em conservatórios como fonte de estudos de técnicas modernas, como apontam as pesquisas de Frésca (2008).

Isso mostra que o compositor era ciente do valor didático de sua obra, na qual a musicalidade e a técnica instrumental são igualmente exploradas dentro de um contexto que evoca diretamente assuntos e aspectos da tradição, do cotidiano, do folclore e da paisagem brasileira. Visto que as obras que exploram a didática do violino são raras e o compositor em estudo as emprega com maestria, utilizando-se de vasta gama de técnicas instrumentais, tanto de arco como de mão esquerda, o conhecimento e divulgação da obra de Valle tornam-se valiosos para os intérpretes que buscam maior contato com o repertório nacional. (FEICHAS, et al, p.7, 2012)

Em 2016 a dissertação de Feichas é adaptada e lançada em forma de livro intitulado “Da Porteira da Fazenda ao Batuque Mineiro: o Violino Brasileiro de Flausino Valle” pela editora Prismas. A partir das pesquisas desenvolvidas, são propostos dois estudos, FEICHAS e SILVA, (2015) e FEICHAS at. al. (2017) que se complementam e colaboram para evidenciar o caráter singular da música de Valle em uma performance situada.

O trabalho Feichas e Silva (2015) apresenta uma proposta que visa analisar as relações entre os títulos das obras com efeitos onomatopaicos encontrados nos Prelúdios de Valle. O objetivo do experimento foi obter resultados preliminares na compreensão dessa relação e como outras pessoas tinham o entendimento da obra de Valle. Foi um trabalho quantitativo, no qual foi selecionada uma amostra de 18 estudantes de um curso superior de música que, sem conhecimento prévio da obra de Valle, deveriam associar o título à obra musical. Para analisar o experimento foi proposto um índice de acurácia para correlação exata da música executada e as respostas do público. Como resultado, Feichas e Silva (2015, p.1) observaram que a relação entre o título e o discurso musical não é óbvia em todos os prelúdios. Essa frágil relação indicada nesse estudo preliminar provocou questionamentos de como as relações musicais e extramusicais poderiam ser claras e evidentes para Valle, mas não necessariamente o seriam para não conhecedores de sua obra: esse entendimento por parte da audiência não é evidente. A partir desta lacuna, como sanar essa dificuldade em transmitir essas ideias extramusicais? Os questionamentos e indagações desse trabalho geraram discussões e novas aplicações no campo das práticas criativas, no projeto “Sons Biofônicos7” que foram explorados em Feichas et al. (2017) e esse, por sua vez, se utiliza do conceito das Fichas Interpretativas (FEICHAS, 2013).

Feichas (2013, p. 50), ainda no que se refere ao objetivo das Fichas Interpretativas, afirma que: “As Fichas Interpretativas têm como função também auxiliar o intérprete a explicar em performance aspectos subjetivos dos Prelúdios, muitas vezes primordiais para o entendimento da linguagem musical do compositor.” A partir da constatação desse autor (2013) que os Prelúdios apresentam uma linguagem sui generis, estudos referentes a interação do performer com o público no âmbito dos Prelúdios de Valle são desenvolvidos e aplicados nos trabalhos do mesmo autor, de 2015, bem como Feichas (et al. 2017) e Keller e Feichas (2016). Observa-se que o uso de imitações e evocações de sons por Valle em sua obra propicia, tanto por parte do intérprete quanto do público, possibilidades para diversas interpretações, o que pode ser auxiliado pelo uso das Fichas Interpretativas.

A partir do recurso das Fichas Interpretativas, a utilização da descrição verbal como outro recurso é notado como necessário. No trabalho escrito em 2017 (FEICHAS et al.), sugere-se que as descrições verbais auxiliam na interpretação por parte do público dos efeitos que são reproduzidos ao violino – isso porque percebeu-se que as representações podem ser interpretadas de diversas formas. Logo, o (a) artista tem a função de “explorar o espaço entre a autoexpressão e o potencial criativo do modelo proposto” (FEICHAS et al. p. 3, 2017).

O conceito do uso de uma performance esteticamente situada, na qual uma interação verbal é uma ponte entre a performance e as experiências do material sonoro, é enquadrada em Feichas (et al., 2017, p. 3) no conceito cognitivo-ecológico de Keller e colaboradores (2010) chamado de ancoragem: 

Keller e colaboradores (2010) sugeriram a ancoragem como processo cognitivo subjacente à metáfora de apoio a criatividade para auxiliar a tomada de decisões criativas. Os dois recursos disponíveis para a ancoragem são modelos conceituais compartilhados socialmente e a associação de estruturas materiais com estruturas conceituais, facilitando as operações cognitivas. Esse mecanismo pode ser ampliado através da introdução de associações semânticas. (...) A Ancoragem semântica aproveita mecanismos linguísticos compartilhados no tecido social. Quando as representações abstratas das experiências sonoras cotidianas são embasadas em experiências verbais o potencial criativo dos recursos sonoros é expandido sem perder as referências aos eventos locais através dos descritores semânticos. Dado esse conjunto de técnicas, propomos o rótulo de ancoragem semântica criativa como conceito de design que abrange tanto o suporte das práticas criativas quanto as estratégias de performance situadas que usam descrições verbais como mecanismo de vínculo entre o suporte material e o processo de tomada de decisões.

O conceito de “Ancoragem Semântica Criativa ainda” é abordado em trabalhos como em Keller e Feichas (2017) “Ecocompositional and Performative Strategies for Creative Usage of Everyday Sounds: Creative Semantic Anchoring“ no Leonardo Journal (MIT) e no trabalho em parceria Keller, Messina, Silva e Feichas (2020) intitulado “Embasamento da Ancoragem Semântica Criativa: Estudo Exploratório com Emulações Instrumentais”, no Journal of Digital Media & Interaction. Em 2018, Feichas e Ribeiro propõem uma parceria para fazer uma análise dos poemas de Valle no artigo intitulado: “Flausino Valle: questões da natureza e infância em seus poemas”. Os autores fazem um paralelo entre a obra musical e poética do artista a partir de teóricos como Williams (1979, 2008, 2011), Bakhtin (2003) e Bhabha (2005) e selecionam alguns poemas para mostrar análises principalmente sobre aspectos da infância, natureza e saudade da terra natal de Valle (Barbacena). Por fim, apontam paralelos entre as temáticas musicais e poéticas:

Pode-se perceber que Valle mantinha, pelo menos no campo das temáticas, semelhanças entre sua obra musical e sua obra poética, e, em ambas, o aspecto biográfico é particularmente forte. Os ataques narrados em “Pássaro Selvagem” são condizentes com aspectos da vida de Valle apontados na pesquisa de Feichas: Valle preferia tocar para pequenas plateias, não conseguiu ser aceito em uma orquestra do Rio de Janeiro, e afirmou, para sua família, que “a música é a arte de harmonizar os sons e desarmonizar as pessoas” (FEICHAS, 2016, p. 26) - Valle tinha uma maneira própria de tocar o violino, e, de acordo com os registros que deixou escritos, respeitava muito essa arte.

Pode-se citar outro trabalho em parceria com Ribeiro e Messina intitulado “Musique Concrète Instrumentale and Coloniality of Knowledge: Helmut Lachenmann, Flausino Valle and the Euro- Normative Bias of New Music Genealogies”, em apresentação no II Congreso MUSAM (Madri, 2019). Nesse trabalho, discute-se o eurocentrismo implícito nos discursos de experimentação artística e de avant-garde. Questiona-se o “ineditismo” da formulação da chamada Musique Concrète Instrumentale de Helmut Lachenmann, no final dos anos sessenta, frente às composições de Flausino Valle, que, pode-se dizer, antecipam Lachenmann. O objetivo do trabalho não foi acusar Lachenmann de plágio, mas sim atentar para o contraste entre a alta visibilidade desse compositor no meio da música contemporânea frente à pouca visibilidade de Valle, utilizando-se de teóricos decoloniais. A apresentação discutiu essas assimetrias e denunciou o eurocentrismo como aspecto central da colonialidade, delineando os diferentes locais de enunciação dos dois compositores e como isso impactou seus trabalhos. A apresentação conclui na busca de contribuir par aa desmistificação da narrativa de suposta universalidade da “Música Nova”, questionando essa suposta universalidade como uma imposição em escala global de uma subjetividade eurocêntrica arraigada. Esses autores publicaram uma versão em português desse artigo nos anais da II Conferência Nacional Flausino Valle8 .

Novamente, Feichas e Ribeiro (2020) propõem uma análise agora sob o prisma de autores decoloniais no trabalho intitulado Um olhar decolonial sobre a obra de Flausino Valle publicado no e- book “Literaturas Memórias e Oralidade”. Os autores fazem apontamentos de aspectos de usos incomuns das técnicas violinísticas e também de análises de seus poemas para trazer essa discussão. Segundo os autores:

Valle se apodera da linguagem musical e a utiliza de uma maneira própria, não buscando imitar compositores de outros países (mesmo que os conhecesse bem, como evidencia em Elementos do Folk-lore Musical Brasileiro, de 1936, e em seus diários pessoais), mas, imitando sons dos ambientes no qual cresceu e os quais frequentou e evocando tradições musicais, rituais e festivas próximas. Nesse sentido, encontramos aspectos decoloniais em Flausino Valle.

Em 2020, outra parceria com Messina et al. gerou o artigo intitulado Música Experimental, Técnicas estendida e Práticas Criativas como Ferramentas Decoloniais: um relato de várias torções e Tensões, publicado na Revista de Antropologia e Arte (PROA) da UNICAMP. Nesse trabalho, os autores apresentam “o problema da ação ambivalente do significante ‘modernidade’, ou seja, um sinônimo de libertação para estéticas musicais envolvidas na experimentação, e um sinônimo de colonialidade para a teoria decolonial”. A partir da discussão do conceito de modernidade a partir de autores decoloniais e suas implicações, é discutida a maneira pessoal como Valle utiliza as técnicas estendidas. É citado também o paralelo entre Valle e Lachenmann já apresentado pelos autores em 2019.

Em 2021, o artigo de Feichas The onomatopoeic effects (imitation / evocation) in the work of Flausino Valle (1894-1954): a case study on the use of the Alla Guitarra technique foi publicado nos anais da Conferência de 2020 da European String Teacher Association (ESTA). Nesse trabalho, Feichas observa as diversas maneiras que Valle imita/evoca a viola caipira em seus Prelúdios, principalmente naqueles que empregam o uso da técnica Alla Guitarra (na qual o violino é tocado em posição de violão).

Ainda em 2021, Feichas em parceria com os professores Emerson De Biaggi e David Cranmer publicaram um capítulo intitulado Estudo de caso do Prelúdio XIV - A Porteira da Fazenda de Flausino Valle (1894-1954) - a importância de aspectos extra musicais na construção da interpretação musical no livro “Música, Estudos Culturais e Educação: Ações, Reflexões e Pesquisa – Volume 2”. Nesse trabalho os autores propõem um estudo de caso sobre a interpretação do Prelúdio XIV - A Porteira da Fazenda de Valle e apontam pontos de discussão, como: a importância da interpretação do Catálogo de Imitações de Vozes da Natureza, escrito por Valle; sutilezas e particularidades da execução do Alla Guitarra; as gravações do próprio Valle tocando seus Prelúdios e; o quanto o contato com o filho de Valle (Sr. Guatemoc Valle) pôde corroborar e embasar a interpretação proposta.

Outro trabalho de 2021 foi o artigo El uso de disonancias en la obra de Flausino Valle apresentado e publicado nos anais do Congresso Panoramas 2021 (Valência – Espanha), evento que engloba outros três eventos: VIII SIIMI - Simpósio Internacional de Inovação em Mídias Interativas; 20º ART - Encontro Internacional de Arte e Tecnologia; 8º BunB - Balance-Unbalance. Nesse trabalho o autor propõe uma análise do uso das dissonâncias em Prelúdios específicos de Valle e observa as possibilidades de decisões interpretativas.

E por fim, a tese de doutorado de Feichas (2021) realiza uma pesquisa no campo da Investigação Artística utilizando uma metodologia específica e protocolos pré-estabelecidos aplicados à construção de uma interpretação de obras de Valle com o foco não só no produto, mas também e captar aspectos do processo de tomadas de decisões interpretativas com o objetivo de gerar uma ferramenta metodológica para instrumentistas que realizar suas pesquisas tendo sua própria prática instrumental como a sua pesquisa9. Ainda em sua tese, propõe análises que complementam considerações estéticas apontadas por ele na dissertação (2016) e pelos outros pesquisadores. Uma dessas análises é o estabelecimento de um paralelo entre a obra poética e a obra musical de Valle: com uma análise envolvendo o poema A Cigarra e o Prelúdio XIV- A Porteira da Fazenda e entre o poema e obra musical Doce Momento, apontou similaridades na estrutura formal das mídias (no caso de Doce Momento), e a busca por timbres específicos em mídias distintas (A Porteira da Fazenda e A Cigarra). Outro aprofundamento realizado por Feichas em sua tese é referente a uma importante característica da obra de Valle: a imitação das vozes da natureza. Feichas propõe em duas categorias: Imitações e Evocações. Ele embasa essa distinção a partir de considerações sobre o Catálogo de Imitações de Vozes da Natureza de Valle e apoiado na teoria da Semiologia Tripartite Musical de Molino/Nattiez. Para além disso, ele apresenta uma discussão de aspectos interpretativos e performáticos, apresentando suas decisões interpretativas através de exemplos de trechos acompanhados de explicações, figuras e vídeos. E por fim, o trabalho propõe edições didáticas/práticas das obras, fruto do processo de pesquisa ao longo do doutorado.

6. A dissertação de Abreu (2015)

No desenvolver das investigações sobre vários prismas de Valle, Abreu (2015) propõe a realização de transcrições e edições para viola de arco, de cinco Prelúdios da coleção de “26 Prelúdios Característicos e Concertantes para Violino Só” de Valle. A partir das pesquisas a respeito de Valle citadas anteriormente, Abreu realiza considerações históricas da viola de arco, desenvolvimento da linguagem musical da viola no século XVIII, XIX e XX e apresenta nesse contexto a importância das transcrições (ABREU, 2015, p. 34):

De fato, no início do século XX, as transcrições tiveram importância no delineamento da identidade sonora da viola de arco. Os benefícios originados dessa prática devem-se principalmente a três grandes nomes: Vadim Borisovsky, Lionel Tertis e William Primrose. E pelo caminho da composição original de obras, Paul Hindemith buscou uma linguagem musical idiomática exclusivamente voltada à viola e obteve muito êxito.

Ele trata também, como autores anteriormente o fizeram, das influências da música brasileira sobre o idiomatismo do violino usadas por Valle em seus Prelúdios. Em consonância com as ideias apresentadas pelos pesquisadores, Abreu aponta a influência da música caipira/viola caipira na linguagem idiomática do violino na obra de Valle (ABREU, 2015, p. 40). Para além disso, o autor realiza um apanhado histórico e estético de Valle e sua obra. No que se refere propriamente às transcrições, ele propõe a transcrição de cinco Prelúdios para a Viola: Prelúdio I – Batuque; Prelúdio V - Tico-Tico; Prelúdio VI - Marcha Fúnebre; Prelúdio XI - Casamento na Roça; Prelúdio XVI- Acalanto.

Como uma das principais conclusões, Abreu (2015, p.156) afirma:

Concluímos que essas transcrições reforçam a relevância da obra do compositor e vêm a complementar a disponibilização de obras brasileiras no início do século XX para a viola de arco. [...] Este trabalho destaca a importância de divulgar a obra de Flausino Vale, dando continuidade ao estudo da “música brasileira para a viola de arco”. Ao utilizarmos ferramentas de transcrição para a viola de arco, adentramos no estudo do idiomatismo desse instrumento, permitindo-nos enfocar particularidades de sua escrita e de sua performance.

7. A tese de Chtereva (2019)

A tese de Chtereva, defendida em 2019, na Academia de Música, Dança e Belas Artes “Prof. Asen Diamandiev” em Plovdiv (Bulgária) na Faculdade de Pedagogia da Música, intitulada “Os capriccios de PETER HRISTOSKOV e 26 Prelúdios de Concerto Característicos para Violino Solo de FLAUSINO VALE” propõe uma análise comparativa para compreender as linguagens composicionais e como esses compositores propõem soluções composicionais originais em suas obras. Antes de propor a análise das obras dos compositores, a autora parte de um levantamento histórico do gênero capricho e o seu desenvolvimento. Ao discorrer sobre o gênero, a autora chega ao violinista/compositor italiano Nicolò Paganini (1782-1840) e seus caprichos para violino solo. Uma das principais conclusões que autora apresenta é (CHTEREVA, 2019, p. 152):

Ambos os compositores são chamados de “Paganini Búlgaro e Brasileiro”. Seu estilo inventivo está enraizado em relevantes canções folclóricas regionais e tradições instrumentais. Sem especificidades concretas na assemelhação do início musical e instrumental, no ritmo e na pulsação correspondentes, eles criam obras cheias da carga do caráter nacional e da especificidade do respectivo fenômeno folclórico. Inovadores excepcionais referente à maestria instrumental de violino. Na parte relacionada com a contribuição são feitas observações sobre certa analogia com relação aos trabalhos discutidos na dissertação.

8. A tese de Berbert (2020)

A tese de Álisson Berbert, defendida em 2020, apresenta uma ideia semelhante ao trabalho da Chtereva (2019) quando compara dois compositores violinistas com a linguagem de Paganini. Berbert realiza uma análise comparativa entre os compositores brasileiros que foram contemporâneos entre si, Flausino Valle e Marcos Salles com o compositor italiano Paganini. Berbert aponta o impacto da obra violinística de Paganini e o quanto essas obras influenciaram compositores de outros países. O pesquisador nota nos Caprichos para violino solo de Salles e nos 26 Prelúdios Característicos e Concertantes para Violino Só de Valle similaridades na “forma, tratamento virtuosístico e os títulos - caprichos e prelúdios” e na vivência desses dois compositores-violinistas com o repertório de Paganini e, a partir disso, aponta que o objetivo da tese é identificar os traços técnico-violinísticos da obra de Paganini na obra desses compositores. O autor aponta que a principal estratégia para identificar a presença de influências do europeu na obra dos compositores brasileiros foi através de uma análise comparativa das obras selecionadas, “tendo como referência os procedimentos utilizados por Paganini”.

A análise é realizada através de quadros comparativos que colaboram para o entendimento dessas influências nas obras de Valle e Salles. Como conclusão, Berbert (2020, p. 144) aponta que:

Através dessa tese foi possível averiguar os impactos das inovações paganinianas nas obras brasileiras para violino solo compostas por Marcos Raggio Salles e Flausino Rodrigues Vale. Por meio das análises pudemos encontrar os pontos de contato e as singularidades entre os 24 Caprichos de Paganini, os Caprichos para violino solo de Salles e os 26 Prelúdios Característicos e Concertantes para violino só de Vale. Todas as técnicas investigadas, em maior ou menor quantidade, estão presentes na escrita dos nossos violinistas-compositores. Apesar disso, Salles e Vale aplicaram de forma pessoal as ferramentas paganinianas, criando não cópias de um modelo pré-existentes, mas, sim, composições originais.

9. O livro de Silvestre (2022)

Silvestre (2022), uma ex-aluna de história da música de Flausino Valle, dedica-se em seu livro a realizar uma compilação de documentos manuscritos, alguns deles transcritos, como a transcrição do “Caderno de Notas Curiosas”, que se trata de um dos diários de Valle repleto de informações pessoais e musicais. Outros documentos são apresentados e muitas vezes transcritos, como artigos de jornais, cartas trocadas entre Valle e personalidades da música da época e partituras em manuscritos de boa parte da obra de Valle, inclusive de vários arranjos e transcrições para violino solo. O foco da autora é apresentar um acervo acumulado e que tem o potencial para pesquisas futuras.

Além desses trabalhos, identificamos outros que estão ainda em progresso.

10. Trabalhos em Multimídia

O documentário “Flausino Valle: o Paganini brasileiro”, dirigido pelo produtor independente Fred Furtado, realiza um apanhado que apresenta alguns dos principais estudiosos e intérpretes da obra de Valle. Diversos depoimentos referentes a aspectos da obra, da biografia e da personalidade do compositor são expostos. As participações especiais dos filhos de Flausino Valle, os senhores Guatemóc Valle e Araken Valle (in memoriam) colaboram com depoimentos que mostram aspectos da personalidade e cenas familiares10.

Outro trabalho que deve ser citado foi o documentário realizado pelo diretor Wladimir Candini, fruto de uma parceria entre a produtora Oi Nêga e o Estudio Cria Cuervos – Possibilidades Sonoras em São Paulo.11

A partir desta trajetória de investigações sobre vários aspectos relacionados a Flausino Valle, percebe-se que pesquisas realizadas no campo teórico e acadêmico com foco estilístico e histórico, aplicações no campo das Práticas Criativas, transcrições para outros instrumentos, divulgações, estudos e homenagens sobre Valle aconteceram ao longo destes anos. Porém, há muito a ser feito ainda para o entendimento dos diversos aspectos musicais e de divulgação da obra desse compositor.

Conclusões

Com esse artigo objetivamos compilar pesquisas relevantes, que tiveram objetivo investigar Flausino Valle sob algum aspecto e assim colaborar para o surgimento de novas investigações. Conseguimos identificar que o trabalho não acadêmico de Milewski (1985) foi o ponto de partida para algumas pesquisas acadêmicas, como as de Alvarenga (1993), Frésca (2008) e Feichas (2013), conforme a presentado no painel Flausino Valle citado anteriormente. Notamos que à medida que as pesquisas foram publicadas, novos flancos de investigação iam surgindo evidenciando a importância de Milewski. Não descartamos, no entanto, a possibilidade de que outros estudiosos sobre Valle possam ter tido o contato inicial através da partitura editada e LP de Heifetz ou de outras obras.

O trabalho de Abreu (2015) conduz a pesquisa para as transcrições para viola e o idiomatismo, indo ao encontro de um procedimento muito adotado por Valle em seus arranjos e transcrições para violino solo. Os trabalhos de Chtereva (2019) e de Berbert (2020) apresentam pontos de contato quando buscam em Paganini padrões e estilos para balizarem as considerações dos respectivos compositores investigados. Paulinyi (2010), assim como Berbert (2020), também aproxima e analisa as obras e linguagens de Valle e Salles, mas pela abordagem das chamadas “escolas de violino”.

Para além de influências e diálogos dos trabalhos de Feichas com outros pesquisadores, em sua tese utiliza uma metodologia específica e aplica a construção de repertório, ou seja, uma metodologia aplicada a sua obra com o propósito de gerar uma interpretação musical e um sistema replicável dentro do campo da Investigação Artística. Feichas ainda apresenta trabalhos com análises em diversas áreas a partir de parcerias com múltiplos pesquisadores. Silvestre (2022) colabora ao divulgar, em seu livro, uma grande quantidade de manuscritos e materiais como cartas e transcrições.

A partir dessas pesquisas sobre Valle, percebe-se que pesquisas realizadas no campo teórico e acadêmico com foco estilístico e histórico, aplicações no campo da Musicologia, Performance, Pedagogia, Práticas Criativas e Pesquisa Artística, transcrições para outros instrumentos, divulgações, estudos e homenagens sobre Valle aconteceram ao longo destes anos. Porém, há muito a ser feito ainda para o entendimento dos diversos aspectos musicais, didáticos e de divulgação da obra desse compositor.

Apontamos e encaminhamos dois focos de pesquisas, que ao nosso ver são importantes vertentes a serem aprofundadas pelos pesquisadores que se interessados em pesquisar a obra de Flausino Valle:

1) As pesquisas Feichas (2013), Alvarenga e Ribeiro (2016) e Paulinyi (2021) no campo da pedagogia da performance, no qual são apontadas análises e aplicabilidades dos Prelúdios no ensino do violino podem ser mais aprofundadas. É um campo que precisa ser consolidado para que essas obras possam ser adotadas de forma mais efetiva nos programas de estudo de Universidades, Conservatórios e escola de música, conforme era a intenção do compositor.

2) Outro campo aberto seria sobre o material abundante de Valle referente às diversas transcrições e arranjos de obras para o violino solo. Quando se compara com as discussões até então realizadas referente aos “26 Prelúdios Característicos e Concertantes para Violino Só”, observamos que se trata de uma frente nova, com discussões em torno do idiomatismo, performance desse repertório e acreditamos que esse estudo possa colaborar com o aumento do repertório de violino brasileiro.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Família Valle por todo apoio dado durante as pesquisas, bem como a todos os autores, pesquisares e violinistas que buscam divulgar o nome de Flausino Valle e de outros compositores latino-americanos.

REFERÊNCIAS

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VALLE, Flausino Rodrigues. Elementos de Folclore Musical Brasileiro. 2a. Edição. São Paulo: Editora Brasiliana, 1978.

VALLE, Flausino Rodrigues. Elementos de Folclore Musical Brasileiro. 1a. Edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.

Películas

Flausino Valle: o Paganini brasileiro. Diretor: Fred Furtado. Produção de Berg Morazzi (ABRA), Evandro Alessio e Gabriel Zambon. Brasil, 2018. Mídia digital. Audio Files. Diretor: Wladimir Candini. Produção de Cria Cuervos: produções sonoras. Brasil, 2019. Mídia digital. 

SOBRE OS AUTORES

Leonardo Feichas possui bacharelado em música/violino (2010), mestrado (2013) e doutorado em música (2021) pela UNICAMP e doutorado em Artes Musicais (2021) pela Universidade NOVA de Lisboa (UNL). Participou de orquestras no estado de São Paulo e realizou concertos em países da Europa e das Américas. Atualmente, é professor de violino Universidade Federal do Acre (UFAC). Como violinista, possui uma intensa atividade como músico de orquestras, violinista solo e camerista. Como pesquisador, tem como temas de investigação o compositor brasileiro Flausino Valle (1894-1954) e no campo emergente da Investigação Artística. É um dos idealizadores do Encontro de Cordas Flausino Valle. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5288-6873. E-mail: leonardofeichas@hotmail.com

Emerson de Biaggi possui graduação em engenharia (1984) e Bacharelado em Música pela Universidade de São Paulo (1988), Master of Music in String Performance - Boston University (1992), Doctor of Musical Arts - University of California Santa Barbara (1996) e Livre Docência pela UNICAMP. Atualmente é professor colaborador da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Música, com ênfase em Instrumentação Musical, atuando principalmente nos seguintes temas: viola, música de câmara, compositores brasileiros contemporâneos. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7730-6604. E-mail: emersond@unicamp.br

David Cranmer possui B. A. (Music) - University of Cambridge (1976), Master of Music - University of London (1977) e Ph. D. em Music - University of London (1997). Atualmente é professor auxiliar da Universidade Nova de Lisboa. Na sua unidade de investigação, o Centro de Estudos da Sociologia e Estética Musical (CESEM) é responsável pela linha de investigação de Estudos Luso-Brasileiros, pelo Núcleo Caravelas (Núcleo de Estudos da História da Música Luso- Brasileira), e projetos sobre o Teatro de S. Carlos (Lisboa), Marcos Portugal, e Música Vocal Luso-Brasileira nos sécs. XVIII e XIX (projeto bilateral com a Unicamp). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6537-5231. E-mail: cranmer@netcabo.pt

NOTAS:

1 As informações sobre o contato de Valle com Heifetz encontram-se no documentário Flausino Valle, o Paganini brasileiro”, que se encontra em acesso aberto no seguinte endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=ytztarUyits , acesso em 12/10/2022. O depoimento em que Milewski fala sobre o contato entre Valle e Heifetz está na minutagem 14’15’’.

2 Acesso aberto no seguinte endereço eletrônico https://www.youtube.com/watch?v=8mLwnSBuYko&t=40s. Acesso em 16/03/2023

3 Acesso aberto no seguinte endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=2YH8GD0fNwg&t=1173s Para melhor localizar do leitor dos momentos em que os pesquisadores identificam a influência de Milewski em suas respectivas investigações, identificamos a minutagem específica: depoimento de Alvarenga entre 46’50’’ a 47’34’’; depoimento de Frésca está entre 1h 06’ a 1h 7’ 2’’; depoimento de Feichas entre 1h 25’04’’a 1h 25’28’’.

4 Ex-spalla da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Regente Titular e Diretor Musical da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo. https://www.artematriz.com.br/claudio-cruz/, acesso em 06/01/2023.

5 Disponível em: https://web.archive.org/web/20150606203648/http://no14plusminus.ro/2010/06/10/flausino-vale- and-the-sotto-le-corde-technique/. Acesso em 16/03/2023

6 Disponível em: https://www.amazon.com.br/performers-Preludes-Violin-Prelúdios-Violino- ebook/dp/B0B2MHLKK3, acesso em 16/03/2023.

7 O projeto Sons Biofônicos consistiu em um projeto de Iniciação Científica na Ufac ao longo de 2016 e fim em 2017. A equipe era formada pelos professores Leonardo Feichas e Damián Keller e dois alunos bolsistas do curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Acre.

8 Anais da II Conferência Nacional Flausino Valle: https://cbf5cb0e-8054-4a65-b1aa- ab341c18107f.filesusr.com/ugd/c98587_3bbad1a8332746ca9c6226e6b9df705d.pdf

9 Essa proposta de metodologia pode ser acessada nesse artigo: https://periodicos.ufmg.br/index.php/permusi/article/view/39994

10 O documentário encontra-se em acesso aberto no seguinte endereço eletrônico: https://vimeo.com/281554415, acesso em 9/2/2019.

11 O documentário encontra-se em acesso aberto no seguinte endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=zoiSTaFmZjU, acesso em 17/09/2019