Em meados do século XVIII, Minas Gerais viveu uma grande “corrida ao ouro”. Uma grande quantidade de pessoas migrou para lá a fim de explorar as jazidas existentes na região de Vila Rica (atual Ouro Preto). A riqueza gerada por essa produção de ouro acabou por criar uma sociedade refinada nessa região, fato que propiciou o florescimento de uma arte colonial. Artesãos como o escultor e arquiteto Antônio Francisco Lisboa, conhecido como “O Aleijadinho”, e o pintor Manuel da Costa Ataíde produziram obras imortais: igrejas cobertas de ouro, esculturas e pinturas no estilo maneirista então predominante em Portugal, que ficou conhecido como “barroco mineiro”.
Assim como se produziu artes plásticas (escultura, pintura e arquitetura), produziu-se muita música para as cerimônias religiosas e eventos especiais da corte portuguesa. A produção musical circulava somente em manuscritos, porque o governo português proibia a impressão de toda e qualquer obra no Brasil, fosse ela literária, didática ou artística. Essa censura fez com que grande parte da produção musical colonial ficasse por muito tempo perdida em antigos arquivos e baús das irmandades religiosas do interior de Minas Gerais.
Chegando ao Brasil em 1944, o musicólogo alemão Francisco Curt Lange (1903-1997), começou a pesquisar o interior de Minas Gerais à busca de partituras existentes entre as famílias de músicos do passado. Assim, Lange percorreu cidades como Prados, Mariana, São João d’El Rey e Tiradentes. No final dos anos 1950, ele já havia reunido milhares de partituras, cujo provável destino seria a destruição. As partituras colecionadas por ele fazem parte hoje do acervo do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, onde há obras dos principais compositores mineiros do período colonial, entre eles José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita,
Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, o Rio de Janeiro passou a monopolizar a produção artística em geral. A partir dessa época destacam-se compositores como José Maurício Nunes Garcia e Marcos Portugal, ambos contemporâneos e, segundo musicólogos, rivais.
O padre José Maurício Nunes Garcia (Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1767 – 18 de abril de 1830) viveu a transição entre o Brasil Colônia e o Brasil Império e é considerado um dos maiores compositores das Américas de seu tempo. Trabalhou como “mestre de capela” de D. João, que se encantou com seu talento quando chegou ao Brasil. Em visita ao Brasil nesta época, o compositor austríaco Sigismund Neukomm, discípulo de Haydn, ficou impressionado com a qualidade artística de José Mauricio escrevendo um artigo publicado na Europa onde chamava a atenção para o Mestre brasileiro.