Thais Rabelo; Edite Rocha; Fernando Duarte
Nascido na antiga capital sergipana, São Cristóvão, José Pacífico de Sales (1809 – 1859) recebeu o nome de José de Santa Cecília quando se tornou frade franciscano. Filho de Manoel Cyriaco de Salles Neúma e D. Maria de São José Salles, “engeitada [sic] da roda da Misericórdia” (COSTA FILHO, 1920, p. 79) “Frei Santa Cecília” – como se tornou conhecido para muitos, no estado de Sergipe –, foi descrito poeticamente pelo historiador Manoel dos Passos de Oliveira Telles, na sua primeira edição de 1903, em termos como: “Sua estatura real é imensuravel justamente pela falta de uma bitola. Não é tão antigo como uma tradição nem novo como uma esperança; mas nós, se o conhecemos é ennevoado e esquivo, embora com esse colorido prismático da luz que se côa através de gotas tenuissimas” (TELLES, 1900/2013, p.65). As informações gerais ainda abordam o início de seus estudos em São Cristóvão, cursando aulas de Latim com Ignácio Antonio Dormundo, insigne pregador (COSTA FILHO,1920, p. 79).
Destacou-se como orador sacro, e também atuou como professor, poeta e, de modo particular, como músico. Contudo, apesar de tratar-se de uma personalidade reconhecida no meio sociocultural sergipano, o levantamento bibliográfico permanece ainda escasso relativamente a este frade. Assim, realizamos diferentes abordagens metodológicas para compilar vestígios da sua atuação: 1) pesquisa hemerográfica em jornais de época que circulavam principalmente na primeira metade do século XIX na Província de Sergipe (reconhecidamente importantes testemunhos da atuação de frei José de Santa Cecília); 2) investigação em arquivos como Museu da Polícia Militar de Sergipe e no Arquivo da Sociedade Filarmônica de Sergipe; 3) narrativas de memorialistas sergipanos publicados entre finais do séc. XIX e início do séc. XX (que apontam, inclusive, para ca- racterísticas bastante pessoais do religioso, como traços de sua personalidade, timbre de sua voz e jargões utilizados por ele), e 4) a pesquisa musicográfica, referente a repertórios musicais que possam direcionar para autoria deste compositor ou contexto musical.
José de Santa Cecília é descrito por alguns memorialistas como um homem ímpar, seja em termos de sua personalidade, seja pelas diversas funções que exerceu ao longo de sua vida, destacando-se principalmente como orador sacro, fama que se espalharia por toda província e até mesmo na Corte. Os escritos memorialistas locais consultados e seus respectivos trabalhos foram: Manoel dos Passos de Oliveira Telles (1859-1935), em seu livro Sergipenses – escritos diversos, Prado Sampaio (1865-1932), em Sergipe – Artístico, Litterario e Scientifico, Sílvio Romero (1851-1914), em sua obra Parnaso Sergipano, em dois volumes, Luiz José da Costa Filho (1886- 1948), em seu artigo publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográ- fico de Sergipe em 1920, Armindo Guaraná (1848-1924), no Dicionário Bibliográfico Sergipano, e Serafim Santiago (1859-1932), em seu Annuário Christovense. Em relação às fontes musicais, as pesquisas nos Museu da Polícia Militar de Sergipe e no Arquivo da Sociedade Filarmônica de Sergipe revelaram partituras contendo obras atribuídas ao frei Santa Cecília. A pesquisa hemerográfica se concentrou nos jornais disponibilizados pelo site da Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional.
Neste âmbito, o propósito de elaborar um levantamento biográfico a respeito do Frei José de Santa Cecília, abarcará, naturalmente, a sua componente de atividade religiosa, docente, bem como sua produção: discursos e produção lírica. Consequentemente, buscamos contribuir para um conhecimento mais amplo em torno da vida e obra desta personalidade através de questionamento como: quais memórias acerca do frei José de Santa Cecília se conservam nas fontes documentais e hemerográficas e como sua atividade musical pode ser revelada por meio dessas fontes? Neste sentido, esperamos, por meio deste trabalho, contribuir para a memória sobre o frei José de Santa Cecília, presente ainda na atualidade na memória oral sergipana, marcada pelo seu hino, mas ainda pouco estudado e aprofundado sobre sua vida, obra e atuação.
De acordo com Armindo Guaraná (1925, p. 347), Frei José de Santa Cecília foi funcionário público, tendo sido nomeado em 1826, antes de entrar para a Ordem Religiosa de São Francisco. Nas palavras de Luiz José da Costa Filho, os atributos da reconhecida inteligência do frei Santa Cecília, facilitaram a obtenção do seu posto de escriturário, cargo este de destaque e em gradual expansão nos inícios do século XIX, particularmente pós-independência, pela literacia das suas funções:
Dotado de intelligencia pouco commum, e de outras qualidades, que o recommendavam ás sympathias geraes, principalmente dos encarregados do poder publico que naquella época davam mais apreço do que hoje ao merecimento real, foi sem esforço que obteve collocar-se na Secretaria das Armas de Sergipe, por nomeação do respectivo commandante Ignacio José Vicente da Fonseca, em 16 de Fevereiro de 1826, para o logar de Praticante da mesma repartição, vago pelo accesso a 2o Escriptuario, do respectivo serventuário Antonio Gonçalves Dormundo (COSTA FILHO, 1920, p. 79).
Contudo, José Pacífico de Sales deve ter permanecido nesse cargo cerca de um ano, optando por entrar para a vida religiosa, cuja referência remonta à data de 1o de março de 1827, quando fez a sua profissão religiosa no convento de São Francisco na Bahia. Foi nesta nova etapa que adotou o nome religioso vinculado a Santa Cecília, padroeira dos músicos, sugerindo a possibilidade de que Frei José já possuiria habilidades musicais antes do ingresso na vida religiosa.
Costa Filho destaca o então brilhantismo do recém professor frade franciscano que o levou a aprofundar-se nas matérias que o conduziram ao sacerdócio, tendo sido incluído no número dos colegiais a cursar a Filosofia, cujo renomado professor o Fr. Luiz de Santa Teresa era Pregador Imperial e, posteriormente, tendo cursado também Teologia, História Eclesiástica e Teologia Dogmática (COSTA FILHO, 1920, p. 80). Depois de terminar os estudos foi nomeado professor do curso no ano de 1835, “sendo-lhe designada a cadeira de Theologia Moral pelo Capitulo intermédio de 1 de Junho” (COSTA FILHO, 1920, p. 80).
O frade “celebrou sua missa nova em S. Cristóvão na igreja do Rosário a 6 de janeiro de 1835”4, tendo sido nomeado presidente do convento de S. Cristóvão (SE) em junho de 1840 (GUARANÁ, 1925, p. 347). Em 1845 tornou-se guardião do Convento de Penedo, função que recebera em Novembro do ano anterior e lá passou a lecionar Latim, na aula pública do mesmo convento em 1846 (COSTA FILHO, 1920, p. 85). Em 1849, retornou ao convento de São Cristóvão, onde foi também eleito guardião e nesse mesmo ano ministrou aulas de Latim no ensino privado, na cidade de Laranjeiras, cuja narrativa inclui também o ensino de Música na grade:
Huma ou outra aula particular de primeiras letras, e mesmo os estudos maiores, sei q’há em diversos lugares da Provincia, como por exemplo, na cidade de Larangeiras, onde o ex-Secretario do Governo desta Provincia, Braz Diniz de Villas-boas, tão versado nos clássicos Latinos, dá lições des- sa lingoa a vários alumnos, assim como o Reverendo Fr. José de Santa Cicilia, que ali, ensinando alguns preparatórios, deduz de suas letras parte dos inicios de sua subsistência. Mas de nenhuma dessas aulas tenho cabal informação, que possa communicar-vos. Estou, porém, habilitado a informar-vos, que com o titulo de – São Christóvão – existe nesta cida- de hum collegio, sob a direcção do actual Director do Lyceu, onde se ensinão – primeiras letras, Lingoa Latina e Franceza, Philosophia racional e moral, Rhetorica, Musica e Dansa - , propondo-se também o respectivo Director chamar Mestres, quando for mister, para Geographia e Inglez: as aulas do Collegio são frequentadas por mais de 50 allunos. [...] (O COR- REIO SERGIPENSE, 28 de Março de 1849, p. 2).
Alguns registros foram confirmando que as atividades de pregador, paralelamente à produção de poesias e composições musicais de Frei José, se encontravam presentes por todo o estado do Sergipe, como publicado no Correio Sergipense (14 de Setembro de 1859, Ano XXII, no 58, p. 4) que o relembra como “um dos mais eloquentes oradores da tribuna sagrada, a quem temos ouvido nesta província. Era versado nas letras santas e profanas e bom poeta”.
Dias antes de morrer, depois de sacramentado, quando seos irmãos, sabendo de seo estado, o forão vizitar, elle os recebeo de face serena, espirito tranquilo, e rizo angelico, com a seguinte quadrinha”: ‘Já disse adeos ao Parnazo,/ E pendurei minha lyra;/ Agora vou respirar/ Onde o Eterno respira.’ As lagrimas correrão de todos os olhos e elle, continuando disse: De que chorão? Isto é tão natural; tranquilizem-se: estou despedindo me do mundo de enganos, para os ir esperar na verdadeira mansão (CORREIO SERGIPENSE, 14 de Setembro de 1859, p. 4).
A causa de sua morte é desconhecida. Contudo, pela literatura encontram-se referências a um modelo comportamental contrastante ao invocado no anúncio de sua morte: Costa Filho atribuiu a doença que o teria vitimado à vida desregrada vivida pelo frade ao longo dos anos, com hábitos de juventude que não havia perdido (COSTA FILHO, 1920, p. 85). Com uma informação que andou adoentado logo após seu retorno à Bahia, em 1836, Costa Filho relata que a situação de saúde voltaria a se acentuar a partir de 1850: “Por esse tempo sua vida era bastante desregrada, entregando-se com excesso aos prazeres do amor e de Baccho, e começou aos poucos a avariar-se-lhe a saúde, já sensivelmente alterada, bem que no gôso de suas forças phisicas” (COSTA FILHO, 1920, p. 85).
Contextualizando esta situação, relembramos que tais hábitos, que podem parecer estranhos para o catolicismo atual ou padrão pessoal, eram uma prática recorrente na igreja do Brasil Oitocentista, justificando pela qual não encontramos passagens críticas ou de julgamento ao com- portamento do frei José de Santa Cecília nas notas de imprensa da época. Anteriormente à Romanização – autocompreensão católica efetivamente instalada no Brasil no último quartel do século XIX –, até mesmo o celibato clerical era questionado ou, muitas vezes, ignorado pelos sacerdotes. “Quando os deputados, padres e leigos, propunham para a Igreja a dispensa do celibato sacerdotal, referiam-se a uma realidade: a maior parte dos eclesiásticos vivia em matrimônio e nem procurava ocultar esta condição” (HAUCK et al., 2008, p.88). No entanto, é preciso ressaltar que, para além da menção feita por Costa Filho à vida desregrada do frei sancristovense, entregue aos prazeres do amor e do vinho, não encontramos nenhuma outra menção. Acreditamos que, por residir majoritariamente no conven- to, o frei José de Santa Cecília não chegou a constituir família paralela à sua vida religiosa.
Cidadão sancristovense, religioso, pregador inspirado e crítico, músico destacado em sua geração, homem de ideias fortes, palavras fortes, mas, ao mesmo tempo, reservado: este é um perfil que pode ser traçado sobre o frei José de Santa Cecília a partir das narrativas escritas a seu respeito e cujo nome ficou perpetuado no nome de uma rua do município em que nasceu.
Fig. 1: Placa da Rua Frei José de Santa Cecília (que liga a praça da Matriz à praça São Francisco), em São Cristóvão
Algumas fontes, inclusive, conferem uma descrição ainda mais detalhada a respeito do religioso, apresentando aspectos pessoais e traços de personalidade, como relatado por Oliveira Telles que o descreve como “um typo acabado do sergipano, aventureiro; mas despretensioso, pouco importando-se com a glória [...] descuidoso, negligente, desleixado, de modo que quem o visse maldara logo um erro de vocação, um ressentimento contra a sorte” (TELLES, 1900/2013, p. 65). O legado deste frade, segundo Prado Sampaio (1908/2012, p. 60), parece ter sido escasso: “Sancta Cecilia foi um espírito rebelde, que se fixou no passado encaixilhando-se na lenda, sem que no mundo houvesse deixado espolio intelectual ou artistico”. Mas o reconhecimento social da sua atuação aparece reiterado, como por Sílvio Romero que enquadra o talento deste frade no contexto sergipano - “Dotados de genio musical e genio lyrico, os sergipanos em todos os tempos deram bellas provas de talento e de optimas qualidades de espirito de caracter. Em S. Christovam, - frei Santa Cecilia, na musica, na poesia, e no pulpito, revelava as brilhantes qualidades de um espirito de selecção” (ROMERO, 1899, p.6) - ou Prado Sampaio (1908/2012, p. 62) que atribuiu ao frade a característica de um homem cheio de talentos: “destaca-se dominando a scena, o talento polymorphico de Frei José de Sancta Cecília”.
Ao descrever as celebrações religiosas anuais do mês de Novembro na antiga capital de Sergipe, Serafim Santiago aborda de forma particular a festa em honra de Santa Cecília, padroeira dos músicos, cuja relevância local era assumida por Frei José como protagonista, e pela participação de uma orquestra para valorizar musicalmente este evento. Apesar do descompasso temporal entre a vida deste frade (1809-1859) e o autor desta narrativa (1859/1932), as cenas memoriadas por ele foram fundamentadas na transmissão oral de antigos moradores da cidade, que teriam convivido com o frade.
O enthusiasmo dos Mestres acompanhados pelos discipulos e discipulas era extraordinário no referido dia 22 de Novembro, quando se effectuava com a maior pompa possivel a festa da Mestra Italiana – Santa Cecilia, na Egreja do Amparo naquela Cidade, onde ainda hoje é moradora! Das antigas festas falarei por tradição. Diziam alguns anciãos d’ali, que um dos maiores influentes da referida festa, era o insigne musico compositor, e orador sacro, e finalmente o inspirado poeta, Frei José de Santa Cecilia [...]. Era elle, assim afirmavam os anciãos meus patrícios, o orador na festa de Santa Cecilia. No dia da festa, via dar entrada no púlpito da Egreja do Amparo o melhor orador sacro em toda a Provincia, digo, sem lisonja, este prendia a attencção dos ouvintes com sua inspirada palavra. Os musicos da orchestra o recebiam-no ao surgir no pulpito com a conhecida ouverture denominada “Santa Cecilia”, para mais enthusiasmo causar o pregador – Cecilia (SANTIAGO, 1920/2009, p. 306).
Como remanescente desta prática, a então imagem de Santa Cecília, mencionada por Santiago como pertencente à Igreja do Amparo, encontra-se resguardada como peça do acervo do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão.
Fig. 2: Imagem de Santa Cecília - Museu de Arte Sacra de São Cristóvão
Também o músico, “Tesoureiro e Zelador da Confraria do Amparo”, Saturnino José de Amorim, a quem Santiago se refere como “velho amigo”, lhe contou algumas passagens sobre o passado de São Cristóvão e, de modo particular, sobre o frade José de Santa Cecília. A citação a seguir se refere a um dos festejos em honra da padroeira dos músicos, sempre celebrado na antiga igreja do Amparo, e que contou com a participação do próprio Saturnino:
[...] em uma das festas de Santa Cecilia, estando elle, Saturnino, fazendo parte da orchestra, quando se aproximava a hora de vir ao pulpito o Frei Santa Cecilia, o mestre da musica dando pela falta , mandou-o em uma casa que fica quasi fronteira á Egreja do Amparo, onde naquelle tempo morava a veneranda D. Maria Salles “Nenéu”, progenitora do Frade Franciscano. Ao chegar o Saturnino na porta, bateu palmas, pedio licença e disse: “Padre mestre, está quasi na hora”; respondeu o Frade que, naquelle momento ainda estava – á fresca: “serei breve, meu poeta”. Dizia o velho Saturnino, “que notara que aquella hora o frade estava já alccolisado, e com tudo não se fez esperar, vestio pressuroso o burel, tomou na sacristia da visinha Egreja do Amparo a rica sobrepelliz e a estola, procurou a próxima occasião de apresentar-se no altar-mór, ajoelhou-se reverente para receber a benção do Celebrante; foi neste momento que ouviu-se a afinadíssima orchestra executar a predilecta ouverture do Frade Franciscano “Santa Cecilia” (SANTIAGO, 1920/2009, p. 306).
Ao final de sua fala, que, segundo Santiago, teria durado em torno de uma hora, tendo como tema central o valor da música, discorrendo sobre a “mestra italiana” Santa Cecilia, um dos ouvintes teria comentado: “O Frei Cecilia, na minha oppinião, não pregará outro igual, o frade estava inspirado” (SANTIAGO, 1920/2009, p. 306).
A citação anterior também fala a respeito da casa onde, possivelmen- te, José de Santa Cecília teria morado parte de sua vida. A casa de sua mãe, que ficava na rua do Amparo.
Fig. 3: Fachada da Igreja do Amparo Fig. 4: Interior da Igreja do Amparo - altar principal
Considerando a afirmação de Luiz José da Costa Filho (1920, p. 80), que “Por ser amante da musica, foi que escolheu para a vida que adaptara o nome de Santa Cecilia, padroeira da divina arte”, inferimos que sua relação com a música e tão presente devoção a Santa Cecília se tenha iniciado ainda na juventude de Frei José e se firmado ao longo dos anos, muito através destes eventos regulares. Numa outra referência a esta fes- ta anual, encontramos um anúncio no Jornal Correio Sergipense de 1842 que revela mais detalhes sobre o papel que Frei de Santa Cecília foi assumindo, como a função de “Juiz da Festividade da Gloriosa Santa Cecilia”. Neste caso, representando o principal organizador da festa e destacando que essa celebração seria mantida na capela do Amparo, templo de uma irmandade de homens pardos (e não de africanos escravizados), fazia sen- tido que a festa fosse voltada para os músicos (categoria profissional de menor condição econômica), e não nos maiores templos da cidade.
O baixo firmado, sendo o Juiz da Festividade da Gloriosa Santa Cecilia, que se há de solemnizar no próximo Domingo 20 do corrente mez na Capela de Nossa Senhora do Amparo, conhecedor dos sentimentos Religiozos, que muito destingnem os illustres habitantes d’esta Capital, convida a todos, rogando-lhes se dignem abrilhantar o festivo acto d’esse Dia com suas assistências, e Familias, o que mutio agradará a Deos, edificará o culto da Religião, e penhorará ao mesmo abaixo firmado, que agradecido lhes beijará as mãos. Sergipe 16 de Novembro de 1842. Fr. José de Santa Cecilia. (O CORREIO SERGIPENSE, 16 de Novembro de 1842, p.4).
Ainda, como traço da personalidade de José de Santa Cecília, o memorialista Santiago registra uma visita que teria sido feita por Zacarias de Góes (1815-1877) – que atuou como Presidente da Província de Sergipe entre 1847 a 1849 – ao frade Santa Cecília, por quem teria grande 19 admiração. Essa visita, intermediada por um cidadão cristovense, amigo íntimo do Frei de Santa Cecília, demonstra a determinação de Santiago em atestar o reconhecimento de um frade que não obstante o seu talento em vários domínios e permanecer numa área geográfica aquém da sua competência, voluntaria e humildemente assume uma posição discreta ao serviço da sua função.
Em uma tarde, dirigiram-se para o Convento de São Fran- cisco naquella cidade, o conselheiro e o christovense e lá em uma das cellas onde se achava o famoso sacerdote, o christovense bateu palmas pedindo licença para dois. O frade suppondo que ambos eram seus patricios e amigos, disse como era costume: “Podem entrar meus poetas...” Ouvindo isto S. Ex. fez um ligeiro ar de riso, vendo o modo porque o philosopho do frade tratava seus patricios. Feito o ingresso, foi S. Ex., appresentado ao frade pelo christovense seu intimo amigo que disse-lhe: “Trago aqui S. Ex., o conselheiro Zacha- rias de Góes e Vasconcellos, que muito desejava conhecel-o pessoalmente para ter uma entrevista. Feitos os cumprimentos do estylo, disse o frade: “esta amável entrevinda de V. Ex. neste cubículo é muita honra que dá a um despresivel frade franciscano, homem sem nome e sem posição social. A es- tas palavras, respondeu S. Ex: é verdade que ha muito tempo desejava conhecel-o, pois a fama de V. Rema. não está somente aqui em Sergipe, estendendendo-se em todo o Brazil e fora d’elle. Abraçaram-se amistosamente os dois homens de lettras e encentaram uma agradavel palestra. Já estando em tão pouco tempo, bem familiarisado o conselheiro Zacharias com o frade – Frei Cecilia, e conhecedôr do talento deste christovense, pedio venia ao novo amigo, e disse: “Padre, queira desculpar, não seria melhor trocar este burel por um diploma de Bacharel em sciencia sociaes, seguindo em minha companhia para a Côrte, a conquistar o referido diploma, contandoo amigo com as minhas diminutas forças para auxilial-o? O frade tornou-se submisso e respondeu: “Exmo. Senhor, não me é possivel aceitar a proposta de V. Ex. estou convicto de que nasci para ser frade, e aqui neste cubiculo onde V. Ex. me encontrou, espero exalar o ultimo suspiro”. Aproximava- -se o toque de Ave-Maria, quando os visitantes conheceram estar chegada á hora das obrigações do religiozo; trataram das despedidas, dizendo o frade ao Presidente; “breve irei retribuir a visita de V. Ex. Deus os levem. Voltando-se para o patricio christovense disse: “poeta passar bem” (SANTIAGO, 1920/2009, p. 332-333).
Em outros momentos do Anuário em que Santiago discorre sobre o frade, também é salientado por esse memorialista o característico modo de Frei José se dirigir aos seus conterrâneos com a frase: “meu poeta!”. Seu carisma é observado não apenas enquanto orador, mas como contendo uma personalidade ambígua, tanto na simplicidade da sua função como frade como de um carácter forte e determinado, aventureiro e até rebelde, tanto na sua distinta formação acadêmica, intelectual, dotado de muitas habilidades e ao mesmo tempo sensível e acessível aos seus como um homem popular e querido por muitos de seus patrícios. Alguns desses relatos se referem, inclusive, à voz do famoso orador.
Serafim Santiago, a partir da descrição feita pelo músico Saturnino sobre a festa de Santa Cecília, destaca que “O som metálico de sua vós agradava, como sempre, aos ouvintes; as imagens que pregava, muitas vezes sublime, deixando os presentes devotos de Sta. Cecilia com o espirito suspenso” (SANTIAGO, 1920/2009, p. 307). Característica esta confirmada por Oliveira Telles (1900/2013, p. 66) que adicionaria “que ao violão cantava com o agradavel metal de sua voz”.
Costa Filho descreve Frei Santa Cecília como liberal, talentoso e patriota (COSTA FILHO 1920, p. 81), um conjunto que conferiria ao frade uma série de discursos inflamados de ideais e posicionamentos políticos que destoavam daqueles defendidos pelos sancristovenses mais conservadores. Alguns desses eloquentes sermões despertaram a atenção desse público rendido ao discípulo de Frei Caneca, como “o pronunciado na capital baiana em 2 de julho de 1835, empolgando a tropa e o povo presentes, que o carregaram nos braços” (NUNES, 1997, p. 72) e o proferido no dia em que o estado celebrava a emancipação política da Bahia, a 24 de outubro de 1836, considerado como “seu mais famoso sermão, eivado de liberalismo, exaltando a liberdade e condenando a tirania. A citação a seguir é referente ao sermão de 1836.
No tempo, pois, em que o archote da discorida flammejava no horizonte da Bahia, e os rubros estandartes da guerra se viam levantados entre a Lusitania e o Brasil, sendo parte integrante a Metropole do Imperio, foi quando, Srs., Sergipe de novo feudataria daquella Provincia, viu muito de perto o servilismo, a ingratidão, a tyrannia de alguns de seus habitadores: como que ainda vejo, como que ainda me tocam essas imagens de dôr, e de uma indifferença tão execranda! Sim, eu vejo sahirem d’esta Capital, arrancados dos braços de suas Consortes, amigos e parentes, em fim, da doce Patria, os nossos dignos Concidadãos, Montes Valença e Bernardino, que carregando pesados ferros, e marchando entre cortadoras espadas, que sergipanos ingratos alçavam, são condusidos até Larangeiras, onde, depois de gemerem em tenebrosas masmorras, são remettidos á Bahia, entregues a todas as desgraças, que sempre acompanham tão funestos acontecimentos (COSTA FILHO 1920, p. 82).
Ainda em seu dicurso, frei Santa Cecília lamentou o fato de Sergipe ter se mantido dividido em relação à liberdade da pátria, quando já boa parte do país apoiava o príncipe regente. Também criticou grupo liberal da época, ao dizer que:
A virtude, Senhores, recommenda por si mesma, o merecimento se manifesta claro e mais perde a Provincia sem duvida, não chamando á sua representação os cidadãos pacífios, morigerados e instruidos; do que esses liberaes de exaltação, que só tendem a formar a anarchia religiosa e Política (COSTA FILHO 1920, p. 84).
O contexto ao qual se referia o frade em seu exaltado discurso era, sobremaneira, o da independência do Brasil, dos conflitos no período da regência de D. Pedro I. À época dos acontecimentos aos quais o frei José se referia estava no governo da Província de Sergipe o Brigadeiro Pedro Vieira (governando de 1821 a 1823), oposião à causa da Independência. Pedro Vieira “era amplamente conhecido como um dos líderes e agente do grupo defensor da anexação de Sergipe à Bahia e à proposta constitucio- nal das Cortes”. Também o vigário da freguesia de Nossa Senhora do Socorro, José Gonçalves de Figueiredo participou do grupo (ANTONIO, 2011, p. 231). As palavras do franciscano criticavam a divisão de Sergipe em re- lação à causa da independência. Essa divisão entre aqueles que apoiavam a independência do Brasil e os que queriam a total submissão à Portugal , também marcante em todo território brasileiro, foi notada em Sergipe.
Em sua fala, frei José denunciou os potentados da terra, que permaneceram ao lado dos opressores nas lutas da Independência da pátria, presos aos seus interesses mesquinhos” (NUNES, 1997, p. 72). Sobre essa ocasião, a historiadora Maria Thetis Nunes relatou o impacto social que a ousadia de frei José despertava:
O sermão escandalizou a sociedade conservadora local, sendo Frei José de Santa Cecília atacado pela imprensa como “ardiloso e virulento” conspirando “contra o trono e o altar”. Sofreu perseguições e mesmo ameaças que cercaram a vida pelas ideias revolucionárias que pregava. Sua atitude é uma demonstração de como as idéias espalhadas pelos ideológos e revolucionários franceses transpuseram o Atlântico e chegariam também à pequena Provincia de Sergipe (NUNES, 1997, p. 72).
A reação da imprensa, cuja crítica pretendia atingir naturalmente alguns sergipanos que pudessem compactuar com a mensagem política do discurso, divulgou um forte posicionamento de crítica e acusação à ousadia retórica de Frei José, atestada também pelo relato do memorialista que referiu que “A parte política do sermão foi a nota dissonante da mimosa peça oratória, no conceito da opinião de todos os credos que ouviram-na com religiosa attenção. Falando sobre a chaga social de então, perante um povo não acostumado a ouvir do pulpito tão rudes verdades” (COSTA FILHO, 1920, p. 84).
A posição de um sacerdote como agente político não era novidade no Brasil Imperial. Frei Santa Cecília é, inclusive, associado como discípulo de Frei Caneca – frei Joaquim do Amor Divino Rabelo (1779-1825) –, que, segundo Costa Filho (1920, p. 84), tinha uma visão política bastante exacerbada. Mas se por um lado, os “oradores sacros” eram bastante requisitados no Brasil católico oitocentista, principalmente nas solenidades e, naquele período, a política estava entre os temas mais recorrentes dos seus discursos, por outro, aparentemente, Frei José seguia uma linha de pensamento compartilhada pelo carioca franciscano Francisco do Monte Alverne (1784-1858) que se destacava também pelas suas impressionantes exposições (HAUCK et al., 2008, p. 102).
Em uma das ocasiões dedicadas ao aniversário do Imperador D. Pe- dro II, Frei de Santa Cecília foi convidado como o sacerdote orador da solenidade na capital sergipense, onde expõe seu forte apoio ao Império brasileiro. Neste âmbito, a narrativa hemerográfica, divulga alguns traços da atividade musical que acompanhava a cerimônia, como um “solemne Te Deum” (O CORREIO SERGIPENSE, 27 de Julho de 1842, p.1).
[...] subindo ao pulpito o erudito Religioso Franciscano Frei José de Santa Cecilia, teve lugar a orchestra instrumental a mais agradavel, e sonora; finde aqual hum religioso silencio deixou ouvir o eloquente discurso, que esse orador, incansável em contribuir com seus sacrifícios para a magnitude e esplendor de taes actos festivos, com o q’ não pequenos serviços tem prestado a sociedade, e lustrado tão pomposos actos nacionaes , recitou, tomando por thema o texto do Paralipomenon – Suscitabo Semen Tuum post Te, et firmebo regnum ejus – em cujo exordio formalisou hum paralelo do rei David, e Pedro 1o: aquelle fazendo a gloria de Israel, deixando na pessôa de Salomão seu filho a segurança dos Israelitas; este fazendo a nossa independência, e deixando no Augusto Filho a segurança do Brasil; a narração foi baseada nas vantagens da Monarchia, onde apresentou, desde a creação, o homem sugeito aos Reis, meditou sobre os males que pesão sobre os povos sem a legitima successão da Realeza; que o Throno tem sido e he a boia de salvação Publica; que os Brasileiros todos os bens conseguirão de hum Monarcha seu Patricio, educado no meio da mesma Nação, que hoje rege: finalmente o orador dá a sentir que qualquer idéa de divisão no Estado, ou mudança a mais leve, fará a sua ruina e total desmoronamento; concluindo com huma pathetica exclamação aos Legisladores, em que lamenta o quadro impune e imoral do Brasil, e lhes roga sabias Leis para o nosso melhoramento e prosperidade. Findo o que, passou-se a entoar hum solemne – Te Deum – alternado pelo Clero e Musica, em acção de graças ao Supremo Ser por nos ter prodigalizado tão venturoso dia de Salvação do Imperio (O CORREIO SERGIPENSE, 30 de Julho de 1842, p.2).
Alguns meses após este evento, encontramos referência de que o religioso franciscano receberia a quantia de 50 mil réis pela Oração que recitara no Te Deum nessa solenidade realizada na igreja Matriz de São Cristóvão, e cujo pagamento era ordenado pelo então Presidente da Província, Ignácio Joaquim Barbosa (O CORREIO SERGIPENSE, 5 de Outubro de 1842, p.1). Neste quadro temporal e político, Telles ressalta que em um contexto que o patriotismo estava muito vivo em função dos recentes epi- sódios em torno da Independência do Brasil que “persistia as lembranças de Labatut”, Frei José escreveria muitos hinos: “muitos cantos patrióticos cahiram do bico de sua penna” (TELLES, 1900/2013, p. 65). Assim, reforçando um posicionamento conjunto com os estados de Alagoas e Rio Grande do Norte no apoio à causa da independência, postura que prova- velmente facilitou a emancipação do estado (FREIRE, 1891/2013, p. 307), o impacto dos posicionamentos do Estado do Sergipe atraíram a atenção nacional, dado que sendo São Cristóvão a capital de Sergipe d’El Rei, foi lá que ocorreram os eventos em prol da emancipação, inclusive contando com a presença do General do Exercito Pacificador Pedro Labatut, quando nomeara José Eloy Pessoa, em 14 de Novembro de 1822 (FREIRE, 1891/2013, p. 307).
É notória a diferença de receptividade do frei em meio à sociedade local, se comparamos a reação ao seu sermão proferido em 1836, e a grande aceitação do mesmo no episódio de sua pregação em 1842, para a qual é convidado. Ainda não é possível determinar os fatores que teriam influenciado essa mudança de abordagem discursiva, por parte do frei. Porém, é possível conjecturar que, em virtude do forte impacto de seus discursos, ele teria abrandado sua fala ao longo do tempo.
Conforme a narrativa de Costa Filho (1920, p. 86): Frei José de Santa Cecília seria “versado nos philosophos e poetas da renascença até os seus contemporâneos”, cujo lirismo se expressava em versos e em música. Nas palavras de Prado Sampaio (1908/2012, p. 61) - remetendo à sua atuação de tocar violão e cantar, e provavelmente no seguimento da forte tradição de improvisar e tocar sem transcrever para a pauta músicas criadas que acompanhavam esses poemas em contextos mais informais - “era musico e poeta a um só tempo, adorado pelo povo, em cujo meio viveu cercado de justa popularidade, a revelar-lhe do pulpito os brilhantes dotes de um orador de seleção”.
Contudo, pouco restou de sua produção poética, como dois sonetos escritos pelo padre franciscano “polymorphico”: um escrito em 1849 e dedicado ao seu amigo Se- nhor Sebastião José Basilio Pyrrho, como alento pela morte de seu filho Affonso e o outro, também publicado no Correio Sergipense, dedicado a um antigo amigo, o Sr. Francisco Muniz Barretto, poeta baiano. Segundo o Frei Santa Cecília, a inspiração para escrever o Soneto lhe teria advindo após ler uma poesia de Francisco Muniz, intitulado A Mulher (CORREIO SERGIPENSE, 9 de Junho de 1855, p.4):
Conheço que calar os ais o pranto, Suffocar lá no peito huma saudade, Do frágil ser não cabe á humanidade, Do terno Pai não póde o valor tanto!...
Sei que te cobrio medonho manto
Da cruel que como féra austeridade,
Nos lares teos plantou fatalidade,
Sem hum Deos commover tão Justo, e Santo.
Perdeste, sim perdeste o carinhoso, Caro filho de ti porção mortal,
Q’o viver te fazia assaz ditoso....
Mas não chores, meu Pyrrho, he Lei fatal Lá no Céo elle he mais glorioso
Mas feliz se tornou, e imortal.
Fr. José de Santa Cecilia, Guardião (O CORREIO SERGIPENSE, 14 de Novembro de 1849, p.4).
Eu li teos versos xeios de ternura, Versos, que influo alta expressão;
Eu vi n’elles o meo Sèr, meo Coração, Sublimes pensamentos da natura.
Ah! Tu pintas mui bem alta Ventura Tu descreves depois negra aflicção, Hés Elmáno na doce inspiração,
Hés um Cysne d’amor, terna Candura.
Eu de longe nas azas da Saudade,
Te remétto, qual passo, um Sentimento, Sentimento, qu’é filho d’amizade.
Das Muzas esse dom, e pensamento, Que te déo lá do Céo a Divindade, Da Bahia te fez seo Ornamento.
Fr. José de Santa Cecilia Guardião (CORREIO SERGIPENSE, 9 de Junho de 1855, p.4).
Violonista, cantor e compositor, frei Santa Cecília é considerado particularmente na sua vertente de músico popular. Embora os exemplos musicais sejam escassos face às referências, os documentos musicográficos existentes da primeira metade do século XIX em acervos brasileiros com escrita violonística, apontam para o uso constante desse instrumento.
Do repertório composto de autoria de José de Santa Cecília, o Hymno Sergipano destaca-se ainda na atualidade do estado. No entanto, para além do hino da mudança da capital, este estudo permitiu identificar ainda outras composições de autoria deste compositor, até então desconsideradas, a saber: um manuscrito de uma valsa intitulada Raquel, atribuída ao Fr. Santa Cecília, bem como a letra do hino dedicado à Coroação de D. Pedro II e a letra do hino da mudança da capital.
Dentre as letras de suas canções – que possivelmente cantava e tocava com acompanhamento do violão – Prado Sampaio registrou as seguintes quadras:
Só quatro cousas podem Destruir uma paixão:
Novo amor ou uma ausencia. O desprezo, a ingratidão.
Novo amor inda não busco Porque tenho coração:
Sou sensível, inda soffro
O desprezo, a ingratidão
(SANTA CECÍLIA in SAMPAIO, 1908/2012, p.60).
Essas únicas duas estrofes, que tratam sobre paixão e desilusão amorosa, e que de alguma forma corroboram com a imagem irreverente ou ambígua do clero nessa época, nas palavras de Prado Sampaio, foi principalmente sua produção musical ligada à música popular (às canções) que o tornaram célebre num contexto que buscaria o corte com as heranças culturais da metrópole:
Nosso primeiro orador sagrado, orador que confiava aos arroubos do momento e aos azares do improviso as suas ternas e brilhantes imagens, e que ás nobres e elevadas energias do seu gênio de rebelde deve em particular a musica sergipana o ter-se desprendido da clássica musica portuguesa, e se haver humanizado entre nós, individualizada (SAMPAIO, 1908/2012, p. 61, grifo nosso).
Na interpretação de Prado Sampaio, a busca por uma identidade sergipanidade seria uma marca na produção do frei Santa Cecília. Oliveira Telles, referindo-se a Frei José de Santa Cecília, já refere que por não se importar com as glórias em torno de seu nome, também não se preocu- pou com a memória de seu nome no futuro, e por isso não se ocupou em deixar escritos seus sermões, que eram causa de forte repercussão da sua maestria, reconhecendo o improviso como uma característica marcante no processo criativo de José de Santa Cecília (TELLES, 1900/2013, p. 25). Se essa colocação for válida também para as criações musicais do frade, seria mais um fator que justificaria a escassez de referências sobre a sua atividade e atuação como músico, bem como a escassez de fontes musicais como as referidas composições mais ligadas aos gêneros populares.
Essa falta de informação documental a respeito de Frei José, se por um lado suscitou em torno dele grande curiosidade, desse lado pessoal e discursivo propagadas na memória oral, por outro, resultou praticamente no esquecimento de sua atuação como músico e, principalmente, como compositor. Algumas hipóteses podem ser levantadas para essa escas- sez de fontes, como a probabilidade de ter sido considerado como uma personalidade irreverente dentro de sua própria congregação, o que não geraria um acolhimento ou mesmo interesse para conservar os seus documentos pelos seus irmãos de ordem, depois da sua morte. Oliveira Te- lles (1900/2013, p. 66) destacando a genialidade de José de Santa Cecília e a popularidade deste franciscano, reforça que também era causa de inveja por parte dos doutos e que era odiado pelos colegas. Contudo, não nos atendo a outras possíveis causas para este lapso de informação, as pesquisas em acervos da Ordem dos Frades Menores – inclusive nos conventos de São Cristóvão e Penedo – seguem na expectativa de algum retorno.
Nas narrativas memorialistas, o “talento polimórfico” de Santa Cecília também se expressou na variedade de gêneros de suas composições. Enquanto a Prado Sampaio destaca-o como músico popular, “adoravel cantor de modinhas a acordar em noites enluaradas o silencio semi-claustral da cidade”, “musico e poeta num só tempo” (SAMPAIO, 1908/2012, 60), Costa Filho (1920, p. 80) o relembrou como compositor sacro, tendo ga- nhado fama ainda quando realizava seus estudos para padre, na Bahia: “como musico, foi excellente executor e componista tendo obtido no con- vento onde professou o renome de primeiro contrapontista e organista no conceito dos competentes. Como tal, compôs na Bahia muitas musicas sacras – hymnos, jaculatórias, ladainhas, tantunergos, etc.”. Costa Filho mencionou ainda um Tantum Ergo, escrito por Fr. Santa Cecília, e que levava seu nome.
Sua obra mais conhecida permanece ainda sendo o Hino de Sergipe, cujo objetivo da composição teria sido o de comemorar a independência política de Sergipe em relação à Província da Bahia. Foi publicado no Jornal “Noticiário Sergipano”, em 1836, sendo a letra do hino de autoria do Capitão Manoel Joaquim de Oliveira Campos e a música, composição do Frei José de Santa Cecília.
Fig. 5: Partitura musical do Hino de Sergipe
Outra obra de sua autoria foi o hino feito em homenagem à Coroação de D. Pedro II, ocasião para a qual fora dedicado. O hino foi oferecido ao então vice-presidente da Província, Joaquim Martins Fontes, e desse hino, chegou até nós a letra:
Santas Leis, valor, e Nome São nosso firme Brasão; C’roar veio nossa Gloria Monarcha, Constituição
Faustoso Dia/Hés o Primeiro Que feliz tornas/ O Brasileiro.
Sorrio no nosso Horizonte O mais luzido clarão: Ouviu-se a voz do Brasil “Monarcha, Constituição”
Faustoso dia &
Esse grito do Ipiranga Fez a nossa Exaltação Hoje firmão nossa Gloria Monarcha, Constituição.
O’ de Julho vinte e três, Hés de Eterna duração, Só tu deste o que faltava, Monarcha, Constituição.
Serás sempre Glorioso Na Brasilea geração: Iltimárão nossos malles Monarcha, constituição.
Troféos erguidos do Throno Ao immenso voarão;
Foi o Céo, qu’ao Brasil deo Monarcha, constituição.
Já provamos áureos Dons De Liberdade, e União; Ninguem possue como nós,
Monarcha, constituição.
Por seu muito Repeitador, Amigo e Capellão: Fr. José de Santa Cicilia, Franciscano (O CORREIO SERGIPENSE, 9-12 de Setembro de 1840).
O refrão – escrito como “Faustoso etc.” – sempre se articula entre as estrofes. Frei José de Santa Cecília escreveu também o Hino da mudança da capital, segundo relatou o Correio Sergipense (13 de Junho de 1855, p.4), cuja letra foi apresentada na íntegra pelo jornal.
Hymno q’ dedica o abaixo assignado ao Exm. Snr. Presidente, o Dr. Ignacio Joaquim Barbosa, pelo plausível motivo de ser confirmada a Capital da Provincia de Sergipe no Aracajú.
1o - Vem, ó Dia majestoso, Vem, ó Dia d’alegria;
Só tu foste, só tu hés,
De Sergipe um almo Dia.
CÔRO
O’ Dia feliz,
Tão consagrado, Hés mimo do Céu Por Jove dado.
2o - Entre as luzes que derramas, Que tudo prazer inspira,
Canta o Nome de Barbosa,
Qu’ em ti vive, em ti respira.
O’ Dia feliz &c.
3o - Hés origem, firme centro Da sergipana ventura, Despontou na tua Estrêlla, Nossa gloria mais futura.
O’ Dia feliz &c.
4o - Mensageiro da Concordia, O foste da Liberdade;
Tu vieste aos Sergipanos
Pelas mãos da Divindade.
O’ Dia feliz &c.
5o - A Provincia rica e bela Erguêo-se no novo mundo, Tendo a baze lá no Tróno Do Augusto Rei Segundo.
O’ Dia feliz &c.
6o - De Sergipe tu previste Altos dons, ricos tesouros,
Q’ a sombra da dòce paz Lhe derrama Eternos louros.
O’ Dia feliz &c.
7o - Este sol he mais fagueiro, Mais risonho e refulgente; Porque as glorias duplicaste Da Provincia Independente.
O’ Dia feliz &c.
8o - Os Sergipanos são filhos D’adhesão, ternura, amor; Por isso o Céo lhes mandou Hum Chefe Conservador.
O’ Dia feliz &c.
9o - Sergipanos cantai todos Da pátria vosso explendor, Entre as palmas do triunfo, Viva o nosso Conservador.
O’ Dia feliz &c.
10o - Voará sempre faustòzo O Nome do Presidente,
Que vos fez um Povo grande No Brasil independente.
O’ Dia feliz,
Tão consagrado,
Hés mimo do Céu
Por Jove dado.
Por Seu muito reverente Subdito, e affectuoso Servo.
Fr. José de Santa Cecilia. (CORREIO SERGIPENSE, 13 de Junho de 1855, p.4).
O hino foi interpretado pelo próprio frei Santa Cecília, na ocasião que celebrava a mudança da capital, no dia 17 de Março de 1855.
Terminado o festim o muito Reverendo Padre Mestre Frei José de Santa Cecilia, homem distincto por seo talento e vir- tudes, acompanhado da banda de musica cantou o hymno abaixo transcripto, que dedicou á S. Ex., sendo tambem de sua composição a respectiva musica. Alem d’esta poesia elle recitou, durante o festim, vários improvisos, cheios de estro sublime, de pensamentos profundos e brilhantes (CORREIO SERGIPENSE, 13 de Junho de 1855, p.4).
A mudança da capital deixaria uma marca na cidade de São Cristóvão. Segundo Serafim Santiago, após a mudança da capital, muitos prédios e edificações de São Cristóvão caíram em ruína (1920/2009, p. 108-109). O autor lastimou o fato de que a população sancristovense não se posicionou contrária à permuta: “a população de São Christovão, [...], cujas tradições deviam estimular o patriotismo de seus habitamtes, ficou indifferente ao attentado e consentiu facilmente na realização dos planos officiaes” (1920/2009, p. 104-105). Nesse ambito se enquadra a posição de frei Santa Cecília, aparentemente favorável à mudança, ao escrever um hino para a ocasião. Sua atitude, porém, não parece ter sido levantada pelos conterrâneos, ou, ao menos, não foi encontrada no ambito da Imprensa, nenhuma matéria que abordasse essa questão política.
Uma outra composição de Frei José de Santa Cecília, que foi identificada recentemente, é o manuscrito do acervo do Museu da Polícia Militar de Sergipe, intitulada Valsa “Rachel”. A fonte consiste em um arranjo do então mestre de música da Banda do Corpo Policial, o maestro Francisco Avelino (1848-1914)7. Produzida no entre séculos, a fonte não possui indicação de data, possuindo a identificação do local a cidade de Aracaju. O manuscrito, autógrafo de Francisco Avelino, está composto por treze partes cavadas e trata-se de um arranjo para banda de música.
Fig. 6: Parte cavada da requinta, da valsa Rachel
Não nos deteremos na análise musical sobre as composições de Fr. José de Santa Cecília neste trabalho, porém, para uma melhor compreensão acerca de valsa desvendada, elencamos as principais informações da obra:
TABELA 1: Quadro com informações técnicas sobre o manuscrito da valsa Rachel
Esta é a única versão da música Rachel que encontramos até o momento, portanto, não é possível identificar até que ponto o arranjador, Francisco Avelino, interferiu na obra original. Tampouco é possível afirmar se teria tido contato com a melodia por meio de outra fonte manus- crita ou somente por meio de transcrição da mesma, ou eventualmente, por transmissão oral do que permanecia ainda na memória coletiva sancristovense. No entanto, o achado é muito significativo, tanto por trazer à tona uma obra do repertório sergipano do século XIX, como por eviden- ciar repercussões da literatura musical do frei José em seu contexto.
A banda do corpo policial era corporação mais requisitada da província, ao longo do séc. XIX e pertencia ao governo provincial. Além disso, ape- sar de não haver informação sobre a data do manuscrito, sabemos que o mesmo foi produzido após a morte do Fr. Santa Cecília, o que também evidencia sua manutenção nas práticas musicais. Porém, é interessante notar que nenhum dos memorialistas consultados mencionou a valsa Raquel, ou qualquer outra composição do frei, de forma mais específica, salvo o Hino de Sergipe e o Tantum Ergo. A questão permanece, portanto, uma incógnita ainda a ser pesquisada. De acordo com o Costa Filho (1920, p. 86), os escritos de Frei José de Santa Cecília, entre os quais: sermões e outros trabalhos inéditos ficaram sob a guarda do padre Gonçalves Barrozo (1821-1882). No entanto, não houve deles mais notícia, particularmente pela ocupação do cargo do padre secular que viria a substituir Frei Santa Cecília em seus sermões, os quais também ganharam na província grande fama.
A partir das fontes consultadas, o perfil de Frei José de Santa Cecília é narrado como uma figura irreverente, autêntica, culta e de notável inteligência, cujas características pessoais também influenciaram seu fazer musical que o projetaram como músico popular, amante das canções, das modinhas e dos improvisos, mas também como compositor requisitado para repertórios de cunho oficial, como o Hino de Sergipe, o Hino da Mudança da Capital e o Hino em homenagem à Coroação de D. Pedro II. Isso denota o reconhecimento por seus contemporâneos, além de uma forte articulação política no contexto sergipano. Conservador na política, livre em suas escolhas, frei José de Santa Cecília foi uma figura popular, acessível, mas também – principalmente pela erudição e pelos talentos – contava com muitas amizades entre os mais abastados e influentes da Província e que demonstraram em sua amizade grande honra.
O levantamento nos permitiu ampliar nosso conhecimento em torno do frei José de Santa Cecília e, de modo especial, a maneira como permaneceu na memória dos autores aqui estudados. Desse modo, respondendo ao questionamento lançado no início deste trabalho sobre quais memórias acerca do frei José de Santa Cecília se conservam nas fontes documen- tais e hemerográficas e como sua atividade musical pode ser conhecida por meio dessas fontes, percebemos que todos os autores que sobre ele escreveram mantém opiniões muito aproximadas sobre o seu viés religioso: um homem notável mas também de comportamento irreverente. É possível identificar a partir de tais fontes que José de Santa Cecília foi um excelente orador sacro, uma pessoa de grande criatividade, o que lhe permitiu destacar-se tanto no púlpito, quanto nas artes líricas da poesia e da música. Por um período, logo após seu retorno a São Cristóvão, no final da década de 1830, passou por momentos de tensão entre seus con- terrâneos, ao dirigir-lhe palavras de críticas, carregadas de teor político, o que lhe ocasionou instabilidade. Os tempos de tensão parecem ter sido relegados ao silêncio a partir de 1850, quando escreveu matérias e poesias muito mais brandas para os periódicos da época, e por ter usufruído de boa aceitação pública. Sua relação com os confrades é ainda ambígua na pesquisa, mas, alguns autores indicam uma relação de inveja e contenda por parte de alguns franciscanos.
A pesquisa também evidenciou a dificuldade de acesso às fontes diretamente ligadas ao frei. De modo especial nos referimos à produção do mesmo: partituras de suas composições, manuscritos de seus discursos, poesias. Observamos que, mesmo as fontes coevas mostram dificuldade em levantar esses documentos, apresentando fatos de caráter genérico. O próprio Luiz José da Costa Filho, em seu texto sobre o Fr. Santa Cecília, escrito em 1918 e publicado em 1920, observou essa ausência (COSTA FILHO, 1920, 81). Atualmente, não identificamos trabalhos específicos sobre o Frei José de Santa Cecília no âmbito da produção acadêmica recente e, mais particularmente, no campo da Música. Principalmente no que tange à produção do frei, as fontes hemerográficas revelaram uma fonte informacional de grande valia, como testemunhas de seu tempo. Tais fontes registraram poesias e letras de músicos que o religioso publicou.
A investigação nos arquivos musicais nos permitiu encontrar uma fonte musicográfica importantíssima e, em nossos dias, desconhecida: a valsa Raquel. Mas o silêncio em torno da sua vertente musical permanece mais destacada se considerarmos tratar-se de um padre reconhecidamente talentoso também como músico e compositor. Permanecem algumas questões em aberto nas narrativas memorialistas e registros hemerográficos: teria este compositor criado e escrito música sacra? Ou, seria ainda possível encontrar esse referido Tantum Ergo?
Esse trabalho não permite um olhar conclusivo sobre este tema que demonstra várias pontas para prosseguir a pesquisa. De fato, esperamos encontrar outras fontes musicográficas, sobretudo, relativas ao frei José de Santa Cecília e sua produção. Os achados corroboram o que se tem escrito sobre o franciscano, evidenciando obras de qualidade expressiva, cheias de ímpeto, revelando assim como o tal caráter irreverente, de um espírito de artista em um religioso discreto. Almejamos que este estudo contribua para a importância de Frei José de Santa Cecília no panorama cultural e artístico cristovense, servindo de fonte para aqueles que, como nós, esperam contribuir para a memória do estado de Sergipe.
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