Os brancos trouxeram o enredo da festa; os negros, escravos, acrescentaram o ritmo e os tambores; os índios, antigos habitantes, emprestaram suas danças. E a cada fogueira acesa para São João, os festejos juninos maranhenses foram se transformando no tempo quente da emoção, da promessa e da diversão. É no mês de junho e julho que reina majestoso o Bumba-meu-boi.
A festa do Bumba-meu-boi, uma tradição que se mantém desde o século XVIII, arrasta maranhenses e visitantes por todos os cantos de São Luís, nos meses de junho e julho. Mas o primeiro registro do festejo deu-se num jornal recifense em 1840.
Longe de ser uma festa criada para turistas, os bois se espalham nos subúrbios e no centro. Na parte nova ou antiga da cidade grupos de todo o Estado se reúnem em diversos arraiais para brincar até a madrugada. Na verdade, nasce do pagamento de uma promessa feita ao “glorioso” São João, mas nas festas juninas maranhenses também se rendem homenagens a São Pedro e São Marçal.
Com traços semelhante aos dos autos medievais, a brincadeira do Bumba-Meu-Boi existe em outras regiões do País, mas só no Maranhão tem três estilos, três sotaques e um significado tão especial.
É mais que uma explosão de alegria. É “quase uma forma de oração”, servindo como elo entre o sagrado e o profano, entre santos e devotos, congregando toda a população.
O enredo da festa do Bumba-meu-boi resgata uma história típica dos tempos do Brasil colônia, quando o Brasil ainda tinha escravos e senhores donos de grandes fazendas de gado e de plantio de açúcar.
Numa fazenda de gado, Pai Francisco - Negro Chico - mata um boi de estimação de seu senhor para satisfazer o desejo de sua esposa grávida, Catirina, que quer comer língua de boi. Quando descobre o sumiço do animal, o senhor (Patrão) fica furioso e, após investigar entre seus escravos e índios, descobre o autor do crime e obriga Pai Francisco a trazer o boi de volta.
Pajés e curandeiros são convocados para salvar o escravo e, quando o boi ressuscita urrando, todos participam de uma enorme festa para comemorar o milagre.
Brincadeira democrática que incorpora quem passa pelo caminho, o Bumba-meu-boi já foi alvo de perseguições da polícia e das elites por ser uma festa mantida pela população negra da cidade, chegando a ser proibida entre 1861 e 1868.
Uma vez convidado, o grupo apresenta-se defronte a casa de quem o convidou. A apresentação começa quando o amo do boi canta a toada inicial, chamada de Guarnecer, organizando o grupo para a apresentação.
Depois é a hora do Lá Vai, uma toada para avisar que o boi já vem. Em seguida é cantada a Licença, quando o boi pede licença para se apresentar.
No decorrer da apresentação cantam louvores a São João, São Pedro, ao boi, ao dono da casa e vários outros temas, como a natureza, lendas da região, amores, política etc.
Em determinado momento começa o auto, quando é apresentada a história de Catirina e Pai Chico, em seguida, canta-se o Urra do boi e a toada de despedida, para encerrar a apresentação.
Também conhecido como Ilha, surgiu em São Luís e é o preferido de seus habitantes. O instrumento que dá nome ao sotaque é composto por dois pequenos pedaços de madeira, o que motiva os fãs de cada boi a engrossarem a massa sonora de cada “Batalhão”. Além das matracas, são usados pandeiros e tambores-onça (uma espécie de cuíca com som mais grave). Na frente do grupo fica o cordão de rajados, com caboclos de pena.
No sotaque de Matraca ou da Ilha, os elementos lembram os rituais indígenas e merecem destaque os Bumbas da Madre Deus, Maioba, Iguaíba, Maracanã, Ribamar, Mata e Tibiri.
Ritmo - É lento, mas altamente contagiante, induzindo a um bailado de poucos gingados, de gestos bruscos, rápidos e curtos, semelhante à dança timbira. O som agudo das matracas, contrastando com o grave dos tambores, produz um espetáculo de rara beleza coreográfica.
Instrumentos - Entre seus instrumentos de percussão tem destaque a matraca – tabuinhas que medem em torno de 25cm de comprimento por 10cm de largura e 2 de espessura. Além da matraca, há também os maracás, tambor-onça e os pandeirões. Os maracás feitos de flandres com cabo, contendo grãos de chumbo ou algo similar, que produzem som quando sacudidos. O tambor-onça, da mesma família instrumental da cuíca, possui uma vareta do lado, que produz som semelhante ao rugido de onça. Os pandeirões, cobertos de couro de boi ou de cabra, são esquentados em fogueiras, para melhorar o som.
Ritmo original do Bumba-meu-boi, este sotaque marca a forte presença africana na festa. tem as suas origens nos municípios da Baixada Maranhense, mais precisamente, no município de Guimarães.
É, possivelmente, o mais antigo e autêntico representante dos “bumbas” do Maranhão. Suas raízes são, originariamente, africanas. Daí ser o mais primitivo e também o mais “chão”. O nome advém do seu instrumento base – a zabumba - tambor de meio metro de altura, conduzido numa vara por dois carregadores e tocado por uma baqueta.
Os maracás servem para realçar o ritmo, harmonizando-se com a zabumba e os tamborinhos. Estes, por sua vez, possuem um som agudo, que preenche as pausas da zabumba. Os tambores de fogo, que são instrumentos toscos, feitos de tronco de mangues, ocados a fogo e recobertos por couro cru de boi, são presos à armação através de torniquetes de madeira, chamados de cravelhas africanas. Os tambores-onça, feitos de folha-de-flandre, madeiras ou material reciclado. Possuem a forma de cilindro com uma das extremidades fechadas por um couro, em que um pequeno bastão é fixado. Produz um som grave, rouco. A zabumba faz o centro da marcação do ritmo do boi.