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A Valsinha do Chico e do Vinícius

Jairo Severiano

Segundo o Aurélio, a palavra "rodar" tem 25 significados, entre os quais "caminhar", que Chico Buarque usa no final da primeira estrofe de "Valsinha".

"Um dia ele chegou tão diferente de seu jeito de chegar

olhou-a dum jeito muito mais quente de que sempre costumava olhar

e não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar

e nem deixou-a só num canto pra seu grande espanto convidou-a pra RODAR..."

"Valsinha" é a quarta composição da dupla Vinicius-Chico, uma parceria ansiosamente desejada pelo poetinha , porém difícil de se formar por serem os parceiros mais letristas do que melodistas. Em 1970, Vinicius compôs essa valsa e entregou-a ao Chico, que logo fez-lhe a letra e passou a cantá-la em seus shows. Então, o poeta escreveu-lhe uma carta elogiosa, mas que propunha várias modificações, uma delas sobre o último verso da citada estrofe:

 

"E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, disse vamos nos amar".

Embora declarando-se "embananado", Chico teve firmeza para contestar o mestre, rejeitando a maior parte das sugestões, como a do verso em questão, assim justificando-se:

"Esse homem da primeira estrofe (...) nunca soube o que é poesia (...) e está de saco cheio. Quer dizer, nesse dia ele chegou diferente, não maldisse a vida tanto e convidou-a "pra rodar..." CONVIDOU-A PRA RODAR, eu gosto muito, poeta, deixa ficar (...) rodar que é dar um passeio e é dançar. Se ele já for convidando a coitada para amar, perde-se o suspense e o tesão" para a transa final...

As cartas que Chico e Vinícius trocaram estão no livro "Histórias das Canções -Chico Buarque", de Wagner Homem.