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Música Internauteira Brasileira

01/12/2010

Explorar possibilidades e encontrar novos caminhos é hoje quase uma obrigação na música de concerto. Os públicos ou estão muito presos a velhos hábitos ou não sabem como chegar perto. Vá a um concerto no Rio de Janeiro, e o mais difícil é encontrar gente com menos de 45 ou 50 anos. Entre os frequentadores habituais e os curiosos que temem não se “encaixar” num ambiente em que se faz essa música, a cravista Rosana Lanzelotte é urna das musicistas mais ativas, no Brasil, quando se trata de aproximar e propiciar. Já responsável, há 20 anos, pela série Música nas Igrejas - que apresentou mais de 250 concertos em 42 igrejas de 30 bairros do Rio de Janeiro -, ela resolveu ultimamente promover uma outra convergência: da música com a informática, sua primeira profissão.

Com apoio do BNDES, Rosana está transformando o Música nas lgrejas em uma nova série, Musica Brasilis. Mantendo a vinculação com espaços religiosos do catolicismo - muitos deles restaurados pela estatal -, o circuito contempla a divulgação pela internet dos concertos gravados e comentados. Será possível, assim, atender à curiosidade dos públicos neófitos e dar prazer aos mais experimentados.

Com ênfase em repertórios brasileiros, a série começou em novembro com música de Villa-Lobos, no cinqüentenário de sua morte, convivendo com a de Lorenzo Fernandez,Pixinguinha ou Bachelfivaidi.

E os concertos já estão sendo “formatados” para futura apresentação on-line.

 “Os músicos querem ter acesso as partituras e os leigos querem se aproximar do      universo da música clássica",  justifica Rosana. “Sabemos que existe uma resistência de  pessoas que dizem que “não entendem”. Muito do repertório clássico não precisa ser      entendido, pois fala diretamente às emoções. Mas outros repertórios seriam mais bem apreciados sendo “explicados”.

A ideia é apresentar no site os concertos que serão filmados no Circuito BNDES Musica Brasilis, enriquecidos por comentários que permitirão acompanhar o desenrolar da obra.”

Professora de didatica da música no Conservatório Brasileiro de Musica, Adriana Rodrigues Didier está dando aos conteúdos, fornecidos por musicólogos como Carlos Alberto Figueiredo, Adriano Meyer e Guilherme Camargo, uma feição mais amigável para o público.

“Na escuta guiada”, explica Adriana, “o usuário dispõe da partitura no computador, mas terá uma descrição dos compassos, com a minutagem. Enquanto a partitura vai passando, ele pode ler um texto que chama a atenção, por exemplo, para os instrumentos que se destacam na festiva introdução do Glória de José Mauricio ou a entrada em uníssono do coro. Lerá explicações sobre o que é uníssono, de onde vem a palavra coral, o que é uma modinha, o que quer dizer fermata, e assim por diante...”

“Estive em um concerto da Filarmônica de Nova York quando começaram uma experiência de distribuir palms (pequenos computadores de bolso) para quem quisesse ler comentários explicativos”, prossegue Rosana Lanzelotte.

“Desde então, essa idéia me persegue. É a chave para ampliar o público. E a internet é a ferramenta ideal, podendo ajudar em oficinas e master classes a distância. O Brasil é grande demais. Jovens músicos de locais distantes não tem acesso a bons professores. Por que não usar a internet para permitir a troca de experiências?”

A itinerância do Musica Brasilis acontece este ano em cinco cidades: Rio, São Paulo, Recife, Tiradentes e Ouro Preto, com 40 Concertos até 17 de dezembro. Além das apresentações abertas ao público, a serie oferece oficinas para jovens músicos em Recife e concertos didáticos para estudantes do ensino fundamental e médio em todas as cidades. Pretende também contribuir com materiais de apoio à reintrodução do ensino de música nas escolas.

Sobre os repertórios, Rosana, que lança este mês uma biografia romanceada de Sigismund Neukomm - Música secreta. A viagem de Sigismung Neukomm ao Brasil (1816-1821) [leia mais na coluna Livros desta edição] -, revela que este compositor merecerá especial atenção: “Considero que o resgate de Neukomm ainda não está completo. Ele escreveu 70 obras no Brasil, ainda há muito o que fazer. É o repertório que inaugura a nossa música instrumental, o primeiro em que se misturam os gêneros popular e clássico. Tenho recebido muitos pedidos em relação a partituras de Neukomm. Estarão em breve no site.”